quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

FRENOLOGIA E FISIOGNOMIA

Os dois termos acima dificilmente seriam familiares ao leitor. Ambos definem ciências ocultas - o primeiro define aquela  que tenta determinar o caráter e as habilidades de uma pessoa pelos acidentes anatômicos do crânio, e o segundo define uma outra bastante similar, a qual julga as pessoas por seus traços faciais. A história da frenologia remonta ao século 18, quando foi criada por Franz Joseph Gall (1758-1828). Tanto a frenologia como a fisiognomia já foram totalmente desmascaradas, não havendo nelas qualquer caráter científico. Todavia, nos anos 20 e 30 não foram poucos os que se deixaram seduzir por elas. Entre estes, estavam os dirigentes da Sociedade Torre de Vigia. Uma edição de 1925 da revista A Idade de Ouro defendia a tese de que "o caráter de um homem pode ser descrito em termos de características faciais, o que se conhece como Fisiognomia, ou pelas características cranianas, uma área definida pelo termo científico de Frenologia". O artigo prosseguia afirmando que tais características contam "nossa história de vida" e, juntamente com as 'vibrações' do corpo, "mostram o que somos e não mentem". As 'vibrações' às quais o artigo se referiam estavam relacionadas à infame teoria do Dr. Albert Abrams,  já estudada neste artigo. Desse modo, por combinar os 'princípios' da frenologia, fisiognomia e das 'Reações Eletrônicas de Abrams', os redatores da Sociedade Torre de Vigia produziram uma autêntica 'salada' de pseudociência com ocultismo. 

     Quase nenhuma Testemunha de Jeová hoje sabe que o fundador do movimento, C. T. Russell, submeteu-se ele próprio a 'exames' frenológicos, cujos resultados foram publicados na biografia dele, escrita por William Wisdom, em 1923. Nela, consta o testemunho de vários frenologistas atestando o papel fundamental de Russell à frente de sua organização. Um deles, de nome David Dall, examinou o 'pastor' em 30 de novembro de 1911 e chegou a um análise reveladora - Russell tinha uma grande cabeça e "um cérebro dotado com um grau incomum de atividade; uma região basilar inteira é acompanhada pela poderosa dotação da natureza moral, intelectual e espiritual". As pitorescas conclusões de Dall - conhecido como um 'notável cientista mental' - foram complementadas por um 'diagnóstico' segundo os 'princípios' da fisiognomia: "uma larga face, um nariz grande e largo, com amplas narinas", bem como olhos  que " comunicam disposição e benevolência... como faculdade diretriz... manifestando-se em generosidade de sentimento a toda humanidade, profundo desejo pelo bem-estar de outros, combinando calor de simpatia com uma rara simplicidade de propósito".

Russell - uma 'grande cabeça'???

     É realmente impressionante como um 'leitor de faces', a partir de um exame anatômico possa chegar a conclusões tão lisonjeiras. Mais impressionante ainda é que uma organização que se autodenomina "o único canal de comunicação entre Deus e a humanidade" tenha se deixado levar por tais sandices em uma época em que elas já tinham sido contestadas pela ciência. Há, contudo, um agravante: tais crendices tinham suas raízes tanto em uma interpretação equivocada da teoria da evolução das espécies - combatida pelas Testemunhas de Jeová - como na eugenia, a saber a crença no aprimoramento genético das raças. Diversos adeptos de doutrinas racistas assentaram suas teorias sobre os princípios da frenologia e da fisiognomia. Por exemplo, uma adepta da bruxaria, Sybil Leek, em sua obra intitulada Frenologia (1970), ressaltou os atributos da raça branca, tomando como base as medidas e características do crânio caucasiano. Sem dúvida, algumas de suas conclusões teriam soado como 'música' aos nazistas.

     Um exame na literatura da Sociedade Torre de Vigia, durante as décadas de 20 e 30 revela o amplo destaque dado à frenologia e à fisiognomia. Vejamos, por exemplo, o que diz  - A Idade de Ouro de 19/1/1921, pág. 224 (em inglês):  

"O tamanho do nariz, e também o tamanho dos olhos, não são sem significado. Um homem de nariz pequeno não pode ter uma mente judicial, não importa que outras virtudes tenha. E um homem de nariz arrebitado não pode administrar justiça mais do que um buldogue pode ser pastor."
     Outra edição da revista (5/7/1928) chegou a dizer, "que bênção seria se pais, mestres, educadores, médicos e outros, estivessem plenamente informados quanto à interpretação das formas físicas, da fisiognomia e, particularmente da Iridiagnose, de modo a que pudessem com, com muita antecedência, detectar doenças em evolução e assim tomar medidas em tempo hábil para preveni-las". Seria hilariante saber o que "pais, mestres, educadores e médicos" pensariam hoje de tais conselhos. Todavia, não percamos de vista o fato de que eles provieram de uma organização que se dizia a única detentora da iluminação divina para restabelecer "verdades" sobre os mais diversos aspectos da vida dos cristãos hodiernos. É, deveras, desconcertante que a 'direção' do espírito santo não a tenha impedido de ser levada, junto com muitos outros,  na correnteza das superstições. Apenas em 1978, a Sociedade Torre de Vigia expressou formalmente - em sua literatura - a desaprovação da frenologia, sem, contudo, dar uma só palavra sobre o amplo destaque que concedeu, por décadas, a essa e outras fraudes ocultistas.


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