HUBERTO ROHDEN

Esta página é dedicada à Huberto Rohden.
Autor de 65 livros, a maioria de filosofia, o tubaronense Huberto Rohden (1893-1981) é um estrangeiro em território catarinense. Pouco conhecido.
Filho de roceiros e lavradores em Braço do Norte, quando o município pertencia ao distrito de Tubarão, Rohden escreveu seus primeiros artigos aos 22 anos na revista "Eco", em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, Estado para onde foi em 1905 para estudar no Colégio São José, em Pareci Novo. Aos 27 anos foi ordenado sacerdote e, para comemorar a data, editou seu primeiro livro, "Tu és o Cristo, Filho do Deus Vivo". Depois de 25 anos de dedicação à literatura cristã, deixou o clero, sob pressão de "invejosos", que rotulavam seus escritos de perniciosos à fé católica.





LIVROS ESCRITOS POR ELE:


Coleção Filosofia Universal


Coleção Mistérios da Natureza



  • ELE É BOM - CRUCIFICA-O!


    Amigo ignoto ouve e escuta a mais dura lição
    que humanos ouvidos podem ouvir!
    Depois de prestares à humanidade
    todos os benefícios que puderes;
    Depois de lhe ofereceres camo holocausto
    mocidade e saúde, fortuna e saber;
    Depois de esgotares o derradeiro átomo de energia
    e extinguires, a serviço dos outros,
    a última luz dos teus olhos;

    Depois de tudo isto, amigo ignoto,
    aguarda um inferno de ingratidão!
    Ninguém pratica impunemente o bem
    - neste mundo imundo...
    Ninguém planta roseiras
    - sem ferir as mãos nos espinhos...

    Ninguém ilumina inteligência juvenis
    - sem ser por elas explorado quando velho.
    Ninguém leva outros ao cimo do ideal
    - sem que eles tentem despenhá-lo ao abismo. Ninguém abre as pupilas a cegos
    - sem que eles, videntes, lhe arranquem os olhos.

    Ninguém dá de comer a famintos
    - sem que estes, quando fartos, o devorem...
    Ninguém "atira pérolas aos porcos
    - sem que estes lhe metam as patas e o dilacerem".
    Ninguém abençoa crianças inocentes
    - sem que essas, quando adultas, prefiram a Barrabás...

    Ninguém cura cegos, surdos, mudos,
    coxos, leprosos, aleijados -
    sem que estes suspendam na cruz seu salvador...

    Ninguém ressuscita Lázaros,
    jovens de Naím e filhas de Jairo
    - sem que estes, redivivos, lhe tirem a vida...

    Ninguém prega doutrinas divinas
    nem ensina mistérios celestes - sem que seja
    tachado de louco varrido ou aliado de Belzebu...

    Ninguém mostra aos homens
    o caminho da verdade e da vida -
    sem que os homens lhe apontem o caminho do exílio...

    Convence-te disto, meu ignoto amigo!
    Existe a misteriosa lei da polarização psíquica...
    Assim como ao polo elétrico positivo
    corresponde um polo negativo,
    e tanto mais negativo quanto mais positivo for aquele;
    Assim como as trevas são tanto mais espessas
    quanto mais intensa é a luz;

    Assim como às mais altas montanhas da terra
    correspondem os mais profundos abismos do mar;
    Assim deve também aos mais insignes benefícios
    corresponder a mais insigne ingratidão...

    Desde que o Nazareno sofreu
    pelo maior de todo os bens o maior de todos os males
    - vigora essa lei estranha, esse paradoxo dos paradoxos...


    Desterra, pois, de ti
    esse desejo impuro de justiça!
    Injustiça é pão quotidiano
    - justiça é iguaria de festa...
    Ingratidão é regra geral
    - gratidão é feliz exceção...

    Seja tão potente a força do teu espírito,
    seja tão pujante a juventude de tua alma
    - que nenhuma ingratidão te faça ingrato!
    Nenhuma derrota te faça derrotista!
    Nenhuma amargura te faça amargo!
    Nenhuma injustiça te faça injusto!

    Com os olhos no Gólgota,
    marcha, firme e sereno...
    ... ao encontro da aurora.

MINHA FILOSOFIA CRUCIFICADA

Meu Deus! Como é difícil viver aquilo que se pensa!...
Outrora, toda a minha filosofia estava na cabeça,
Em forma de grandes idéias,
Mais tarde, a minha filosofia desceu ao coração,
Em forma de belos ideais.
E eu, na minha erudita ignorância,
Me tinha em conta de um filósofo...
E, em frases grandíloquas de altissonante eloqüência,
Proclamava aos quatro ventos a minha sapiência filosófica...
Quando, porém, tentei passar a minha filosofia
Da cabeça e do coração para as mãos,
Para a crueza da vida prática,
Para o rude prosaísmo da vivência cotidiana -
Quase que desanimei...
Verifiquei que subia ao Gólgota
E ia ser crucificado...
Da cabeça e do coração para as mãos -
Não é isto uma cruz?
Minha pobre filosofia,
Ontem tão segura e autocomplacente,
Hoje, sangrando entre os braços da cruz!...


Desde então, nunca mais falei em filosofia
Grandiloquamente,
Como se a possuísse, com segura abundância,
Como se fosse milionário do saber.
Desde então, tentei realizar,
Em humildade e silêncio,
Uma pequenina parcela
Das minhas grandes teorias,
E por feliz me dava quando conseguia viver um por cento
Das minhas idéias e dos meus ideais.
Enveredei pelo "caminho estreito"
Passei pela "porta apertada",
Deixei para cá da fronteira
Toda a minha orgulhosa bagagem filosófica
De ontem e anteontem...
Bem pouco da minha filosofia de antanho
Passou pelo "fundo da agulha" da vida real.
Abandonei aquém da fronteira fatídica
Toda aquela luxúria mental e verbal,
Como ilegal contrabando.
Mas, o pouco que passou para além
É sólido, seguro e legítimo,
É puro como ouro acrisolado
Em fornalha carinhosamente cruel.
E é este cerne da minha filosofia
Que me sustenta nas lutas da vida
E lança misteriosa ponte
Para a vida eterna...
Minha filosofia crucificada,
Morta e sepultada -
Ressuscitou -
Em plena Páscoa!
Aleluia!...