quinta-feira, 22 de agosto de 2013

30 ANOS ESCRAVO DA SEITA DIABOLICA QUE SE DIZ SER TESTEMUNHAS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ.

EDIÇÃO RESUMIDA DAS CONFISSÕES CHOCANTES DE UMA TESTEMUNHA DE JEOVÁ CONVERTIDA!




30
ANOS
ESCRAVO
DA TORRE
DE VIGIA






WILLIAM J. SCHNELL
MAIS DE 300.000 EXEMPLARES VENDIDOS0-8010-7933-0
Cultos & o Oculto
30
ANOS
ESCRAVO
DA TORRE
DE VIGIA
William J. Schnell lutou com Deus em oração durante uma noite inteira. Quando apareceu a luz da manhã, ele levantou-se com paz na sua alma e uma canção no seu coração. Pela primeira vez em trinta anos, Schnell era um homem livre. Durante três décadas ele tinha estado escravizado num dos sistemas mais totalitários do século 20. Naquela manhã ele levantou-se com uma firme determinação de que, com a ajuda de Deus, revelaria ao mundo o funcionamento interno da Sociedade Torre de Vigia. O resultado foi este livro fascinante, Trinta Anos Escravo da Torre de Vigia. É verdadeiramente um dos mais significativos livros de confissões desta geração.
BAKER
A  D I V I S I O N  O F
Baker Book House Co
Cultos & o Oculto
ISBN 0-8010-7933-0
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9 780801 079337
 

William J. Schnell (1905-?)

O Autor

Nasceu em Jersey City, New Jersey, em 1905. Foi levado pelos seus pais numa viagem à sua terra natal, a Alemanha, e ali ficou confinado pelo eclodir da Primeira Guerra Mundial. De origens Luteranas, converteu-se nessa igreja numa tenra idade. Em gratidão pela proteção de Deus durante a Primeira Guerra Mundial, resolveu gastar a sua vida no serviço de Deus. Associou-se com os Estudantes da Bíblia, e com eles caiu sob o controlo da Sociedade Torre de Vigia sob o ambicioso novo presidente, Juiz Rutherford. Empregado na sede da filial alemã da Sociedade Torre de Vigia em Magdeburgo. Como Diretor de Serviço, ajudou a subjugar os Estudantes da Bíblia alemães ao governo ditatorial da Sociedade. Ajudou a organizar o trabalho na Alemanha, Polônia e Checoslováquia. Desgostoso com os procedimentos e funcionamento interno da Sociedade, ele emigrou para os Estados Unidos em 1927. Reentrou no serviço da Sociedade como Pioneiro em 1933. Tornou-se Servo de Companhia e depois Servo de Unidade em Manhattan. Foi colocado na direção do serviço dos Pioneiros no Departamento de Serviço na sede da Sociedade em Nova Iorque. Tornou-se Exactor (ou Servo de Zona) da Zona 1 (Ohio Nordeste e Pennsylvania Noroeste). Ajudou a fomentar tumultos em Hubbard, Ohio, e em outros lugares, e lutou em mais de 500 batalhas em tribunal, algumas mesmo até ao Supremo Tribunal dos Estados Unidos. Foi ordenado como um "ministro" pela Sociedade Torre de Vigia, batizou 463 novos conversos, e organizou cerca de 84 congregações. Progressivamente apercebeu-se do erro da Sociedade Torre de Vigia, à medida que regressou à oração pessoal e ao estudo da Palavra de Deus. Em 1954 regressou a uma vida de liberdade em Cristo, depois de uma noite agonizante de luta na sua alma e de oração. Depois de Trinta Anos Escravo da Torre de Vigia, leia:
ENTRANDO NA LUZ DO CRISTIANISMO
Por WILLIAM J. SCHNELL
As Doutrinas Básicas das Testemunhas de Jeová à Luz das Escrituras
ÚTIL! Quando o Sr. Schnell revela as doutrinas básicas e mostra como elas ficam aquém das Escrituras Sagradas.
COMOVEDOR! À media que o Sr. Schnell conta os seus sentimentos e experiências depois do seu primeiro grande livro, Trinta Anos Escravo da Torre de Vigia, ter sido escrito.
EMOCIONANTE! À medida que o autor rejubila com as centenas de convites para discursar que recebeu, e as recepções de braços abertos que lhe foram dadas pelas igrejas e grupos evangélicos de costa a costa!
$2.95
Preço Especial por Estes Dois Livros: $5.75!
BAKER BOOK HOUSE
Grand Rapids 6, Michigan

TRINTA ANOS
ESCRAVO DA TORRE DE VIGIA
As Confissões de uma
Testemunha de Jeová Convertida
W. J. Schnell
Edição Resumida
BAKER BOOK HOUSE
Grand Rapids, Michigan
Copyright © 2001 Observatório Watchtower. Reservados todos os direitos.
Copyright da edição americana © 1971 por Baker Books
uma divisão de Baker Book House Company
P.O. Box 6287, Grand Rapids, MI 49516-6287
Copyright da edição americana renovado em 1984 pela Sra. William J. Schnell.
Reservados Direitos Internacionais.
Edição para mercado em massa lançada pela primeira vez em 1971.
ISBN: 0-8010-7933-0
Vigésima-segunda impressão, outubro de 1996.
Impresso nos Estados Unidos da América.

Prefácio


Pela graça do Senhor eu sou um cristão. Fui encontrado por Deus na minha tenra juventude. Cedo na vida, fui seduzido para me juntar à Organização Torre de Vigia, e subseqüentemente tornei-me completamente escravizado a ela. À medida que a minha vida espiritual desaparecia, tentei desesperadamente libertar-me. Cada tentativa apenas resultou em escravidão mais profunda. Duas vezes pensei que me libertara, mas reincidi para dentro da sua cova. Mas agora, mais uma vez, estou livre.
Pela graça de Deus, fiquei livre quando Ele me levantou depois de uma noite de oração, e quando me tornei tão agitado e vivo espiritualmente mais uma vez, que fiz um voto ao Senhor. Naquela noite fiquei livre!
Ao escrever esta história sobre os meus trinta anos de escravidão, estou a cumprir este voto, que pela graça de Deus me trouxe liberdade. Não é um tratado erudito o que lerá aqui. É simplesmente a história sentida de uma escravidão tão profunda, que me levou trinta anos a libertar-me. Ao revelar como essa escravidão é efetuada, estou a servir um propósito cristão. Se o leitor já está mergulhado nesta escravidão como uma das Testemunhas de Jeová, sei que estas revelações o ajudarão a avaliar devidamente a sua situação, e em vez de andar às apalpadelas na escuridão, encontrará a única saída, que eu tive de aprender depois de muita busca de coração e depois de muitas tentativas e erros. Se o leitor não é uma das Testemunhas de Jeová, então lendo esta história da minha escravidão durante trinta anos, estará de sobreaviso, e estará vigilante. Em qualquer dos casos, este livro representará para si um grande benefício. A tinta usada para imprimir pode trazer à vista as palavras que fazem esta história, mas o seu conceito e idéias espirituais foram escritas com o sangue da minha vida e com os meus sentimentos de tormento e tortura experimentados num Inferno muito mais vívido do que era o Inferno de Dante.
Não tenho qualquer rancor contra os meus anteriores irmãos -- não tenho contas a ajustar -- ao escrever esta história. Só tenho uma grande tarefa a realizar, e esta é
Tenho um voto a cumprir,
que fiz a Deus,
quando Ele me libertou,
mais uma vez para ser um cristão!
W. J. Schnell

Índice

1.  Parecia Tão Inofensivo9
2.  Maquinações Iniciais18
3.  Entrando na Escravatura da Torre de Vigia26
4.  Um Olhar Sobre a Organização na América34
5.  Um Olhar em Frente40
6.  O Juiz Visita a Alemanha45
7.  Peneiramento51
8.  A Organização de Deus57
9.  De Gosto a Desgosto63
10.  "Pioneiros! Oh, Pioneiros"71
11.  Reviravoltas Doutrinais83
12.  A Estratégia Resulta92
13.  Apoiados Pelos Tribunais101
14.  Serviço em Nova Iorque107
15.  Um Programa em Sete Etapas119
16.  Ação em New Jersey132
17.  A Teocracia de 1938137
18.  Trazendo a Zona I de Volta à Linha143
19.  Estabelecendo uma Teocracia Mundial156
20.  Quem É o Grande Lobo Mau?164
21.  Saindo do Labirinto175
22.  Um Aviso185
23.  Quando Eles Vierem à Sua Porta190

1. Parecia Tão Inofensivo

Chamado pelo Pai

Fui chamado pelo Pai quando tinha 12 anos de idade. Numa manhã de domingo em julho de 1917, quando assistia a uma aula da escola dominical na Igreja Luterana local, fui profundamente agitado por uma visão de Jesus, nosso Salvador, conforme evocado por uma descrição da parábola do Bom Samaritano. A descrição que o nosso professor fez do que estava por detrás de Cristo ter contado a parábola suscitou no meu coração um desejo ávido de aprender tudo o que podia sobre Jesus. Vi que o conceito que Ele tinha de ajudar transcendia a nacionalidade, a religião e a classe. Senti que a tolerância Dele em fazer o bem estava em forte contraste com o que se passava à minha volta à medida que a Primeira Guerra Mundial se arrastava para o seu terceiro ano. Tudo isto incendiou a minha imaginação e tornou-se um desafio na minha mente, para ser resolvido apenas aprendendo tudo o que podia sobre Jesus e os Seus ensinos, bem como sobre os Seus antecedentes.
Depois de chegar a casa ao meio-dia desse domingo, comecei de fato a devorar os quatro Evangelhos, depois todo o Novo Testamento e finalmente todo o Velho Testamento. Fiquei profundamente envolvido no que estava a ler. Em anos posteriores percebi que o que aconteceu aqui foi que o Pai me tinha chamado, da maneira que Jesus tinha prometido: "Ninguém pode vir a Mim se o Pai que Me enviou não o atrai" (João 6:44). Pois através deste ávido estudo das Escrituras, fiquei cônscio da minha grande necessidade de um Salvador, e uma profunda saudade tomou conta do meu coração e encheu a minha mente. Fui habilitado a ver a minha situação como humano, trazido a este mundo sob a sentença do pecado e da morte, e com emoção e de forma significativa podia clamar com o salmista: "Eis que eu nasci na culpa, e minha mãe já me concebeu pecador" (Salmo 51:5).
Com este conhecimento crescente sobre a minha verdadeira condição e com uma compreensão das provisões de Deus para a minha salvação em Jesus, que é não só o Bom Samaritano mas também o Bom Pastor, entrou no meu coração fé para acreditar nestas maravilhosas provisões de Deus para mim em Jesus Cristo. Comecei a acreditar no pecado e na salvação. Aprendi com alegria que Jesus tinha morrido na Cruz para pecadores como eu, e que o Seu sangue tinha lavado os meus pecados, e que a Sua ressurreição da morte tinha sido conquistada para mim e para todos os que O aceitam em fé.

Ascensão e queda

Pertenço a uma geração de homens que enquanto crianças viveram na Europa durante a Primeira Guerra Mundial e que tiveram toda a sua estabilidade e paz mental destruída muito antes de amadurecerem. Muitos dos meus contemporâneos afundaram-se no abismo do desespero; outros tornaram-se ateus; ainda outros tornaram-se fanáticos e revisionistas militantes, revoltando-se contra o status quo. Ter sido levantado para uma novidade de vida numa idade tão precoce e sob tais condições, foi uma grande dádiva para mim. Sei que isso me sustentou através dos anos que se seguiram. Isso foi-me dado pelo Pai através de Cristo Jesus, de forma inteiramente imerecida, completamente por graça -- algo que nunca esqueci.
No meu décimo quarto ano, fui movido pelo espírito para me entregar a Cristo Jesus e através Dele ao Pai como morto para a minha carne e vida anterior. Eu tinha-me de fato tornado vivo no Espírito, e assim entrei num relacionamento como um filho para com um Pai, para uma "novidade de vida". Escusado será dizer, tão poderosos foram os mananciais libertos no meu ser mais íntimo, que os meus pés saltaram de alegria, e o meu coração cantou alegremente, e vi tudo sob uma nova luz. Toda a minha maneira de ver o mundo em que vivia mudou, e todo o desejo pelos seus prazeres e riqueza murchou, e entrei naquilo que certo poeta cristão chamou eloqüentemente a "minha Primavera cristã".
Nesses tempos atribulados, muitos da minha geração tornaram-se fantoches usados pelas forças que posteriormente os conduziram para o Comunismo, para o Ateísmo ou para o Nazismo. Eu acabei por cair vítima de um ISMO ainda maior e tornei-me seu escravo leal durante cerca de trinta anos da minha vida, nomeadamente, A RELIGIÃO DA TORRE DE VIGIA. Astutamente, conforme mostrarei conclusivamente na minha história, a Sociedade Torre de Vigia utilizou os tempos e condições instáveis desse período difícil entre 1919 e 1938 para criar uma Sociedade do Novo Mundo que eles esperam que durará mil anos.

Confinado pela Guerra

Nasci em Jersey City, New Jersey [E.U.A.], no ano de 1905, e com a idade de 9 anos fui levado pelos meus pais numa viagem à terra natal deles, a Alemanha. Esta viagem foi realizada no início da Primavera de 1914, no mês de maio para ser exato, quando a guerra parecia muito remota. Quando finalmente se tornou claro que a guerra iria eclodir, os meus pais tentaram desesperadamente obter uma passagem para os E.U.A., mas em vão.
O meu pai, não sendo ainda um cidadão dos E.U.A. mas tendo os seus primeiros papéis, em breve foi incorporado nas forças armadas das Potências do Eixo, tendo sido um oficial na reserva antes de emigrar para a América. Ele teve de deixar para trás a minha mãe, eu próprio e um irmão, uma irmã e outra irmã que nasceria em setembro. Adquirimos 4 acres de terra e uma casa na província oriental de Posen, na Alemanha, situada a cerca de 16 quilômetros da fronteira russa.
A guerra tinha rebentado apenas duas semanas antes, mas os russos já estavam a pulular à nossa volta nos bosques, infiltrando toda a área da fronteira. Então, subitamente, toda a nossa região se tornou um campo armado. Foram aquartelados soldados em todos os nossos lares e ficavam em bivaques nos campos à nossa volta. Os alemães estavam a preparar-se para uma grande ofensiva, cujo centro se estava a desenrolar com grande força nos campos de Tannenberg, na Prússia Oriental, onde von Hindenburg aniquilou vastos exércitos russos. O estrondo dos canhões podia ser ouvido à distância. Então, certa manhã, começou uma marcha de três dias de dezenas de milhares de russos que tinham sido feitos prisioneiros, através da nossa aldeia que estrava situada num ponto central de passagem no Leste. Depois disso o campo de batalha avançou muito para dentro da Rússia.
Durante todo esse tempo não tínhamos notícias do nosso pai. Finalmente, no início de 1915 tivemos notícias dele. Mas na grande retirada estratégica dos exércitos austro-alemães no início de 1916, a Divisão na qual o meu pai servia foi designada para reter os russos numa ação na retaguarda perto de Pzemischl. Ali eles mantiveram todo o Exército Russo durante setenta e duas horas, permitindo às forças principais a retirada para trás das Montanhas dos Cárpatos. Escusado será dizer, a Divisão foi completamente dizimada. A Companhia na qual estava o meu pai foi reduzida a apenas sete efetivos, e estes remanescentes esfarrapados conseguiram achar o seu caminho através das passagens das montanhas até à Hungria. Novamente, durante todo este tempo nós não tivemos notícias do nosso pai e os nossos corações estavam pesarosos. Foi especificamente durante este período de tempo que eu me tornei receptivo à mensagem de Jesus Cristo na parábola do Bom Samaritano.
O meu pai foi autorizado a ficar na Hungria para recuperar durante seis meses. Entretanto, a contra-ofensiva austro-alemã foi bem sucedida e expulsou os russos para fora da Galícia e bem para dentro da Wolynia, muito no interior da Ucrânia, libertando a Galícia. Congress Poland e outras áreas de leste, que estavam largamente desprovidas de habitantes, tiveram de fornecer os muito necessitados suprimentos de comida para o exército. Foram formadas equipas de oficiais na Hungria, e foram-lhes confiados milhares de prisioneiros russos que deviam trabalhar na lavoura nestas vastas áreas. O meu pai pertencia a uma dessas equipas de três oficiais, que recebeu o comando de uma vasta propriedade no Rio San, perto de Lemberg.
Durante este tempo o meu pai teve uma maravilhosa oportunidade de praticar o cristianismo. Ele ajudou em todos os lugares que podia e tratou de forma franca e amigável estes pobres mujiques das estepes russas, ao passo que os seus companheiros oficiais eram ásperos e cruéis. Esta situação continuou até ao outono de 1918, quando os exércitos austro-alemães colapsaram no Leste, e se viram encurralados no meio de pessoas eslavas que odiavam amargamente os alemães.
Os prisioneiros russos escaparam e primeiro mataram todos os oficiais alemães que conseguiram apanhar. Lembrando-se das boas coisas que o meu pai tinha feito para eles, os prisioneiros russos capturaram o meu pai e fizeram-no fugir de noite, colocaram-no sobre um cavalo veloz, e guiaram-no através de toda a confusão e colapso da ordem na Galícia de Leste, desde Lemberg até Pzemischl. Ali o meu pai pôde tomar um comboio de mercadorias que o levou em segurança até Krakow três semanas mais tarde, uma viagem que normalmente demorava doze horas por comboio de mercadorias. Dali ele pôde tomar um comboio para Breslau, onde posteriormente foi desmobilizado.
No fim de dezembro de 1918, perto do Natal, o pai entrou na nossa casa. Que alegria! Mas foi uma alegria que não duraria muito. No início de 1919, forças rebeldes polacas saltaram a fronteira e começaram a ocupar a Província de Posen na qual vivíamos e que lhes tinha sido cedida pelo Armistício. Mais uma vez a nossa aldeia tornou-se um campo de batalha. Certa vez o meu irmão e eu, apanhados numa casa entre uma escola na qual estavam estacionadas tropas alemãs e a nossa casa, tivemos de gastar um tempo considerável num armazém de batatas enquanto se ouviam as metralhadoras por cima. Finalmente as forças alemãs capitularam e cidadãos como o meu pai foram tomados como reféns. Durante algum tempo o futuro parecia negro, visto que muitos dos reféns que eram ex-oficiais e funcionários estavam sendo fuzilados.
Numa noite um grupo de bandidos levou a cabo uma incursão procurando comida na nossa aldeia. Eles tiraram-nos toda a comida e alinharam as mulheres, entre as quais estava a minha mãe, como reféns. Durante algum tempo parecia que o líder iria disparar sobre todas as mulheres. Mantive-me perto da minha mãe que, conforme pude ver, manteve a sua coragem usual. Eu tinha um punhal alemão escondido sob a manga; pois tinha decidido que no momento em que ele desse a ordem para disparar, eu espetaria o punhal nas costas dele. Mas graças ao Senhor, essa contingência não surgiu! A ordem não foi dada e as mulheres depois foram libertadas.
No início de 1921 fomos metidos em carros de gado e transportados através da Polônia até à nova fronteira alemã e ali fomos entregues aos alemães. Ali oficiais alemães receberam-nos e enviaram-nos para um campo de refugiados na seção ocidental de Berlim. No dia em que chegamos a Berlim, os Spartakists, uma alcunha dos comunistas naqueles dias, estavam nas ruas a travar batalhas contra as tropas republicanas, arremessando objetos. Estava tudo confuso; mas por fim nós estávamos comparativamente seguros.

Envolvo-me

Gratos ao Senhor por estarmos todos vivos e podermos mais uma vez viver juntos em paz, o meu pai e eu resolvemos que dali em diante gastaríamos toda a nossa vida servindo a Deus de um modo ou de outro. Perdidos nesta enorme cidade de Berlim, fomos um dia visitados por um Estudante da Bíblia que nos deixou alguns livros que começamos a ler. Não muito tempo depois, procuramos os Estudantes da Bíblia e começamos a associar-nos com eles. Não tínhamos outras filiações e na Eclésia dos Estudantes da Bíblia de Berlim encontramos uma medida piedosa de amor fraternal e felicidade na associação. Eu tinha então cerca de dezasseis anos e comecei a crescer em assuntos espirituais.
Deixem-me dizer aqui que estas Eclésias dos Estudantes da Bíblia eram muito diferentes dos atuais locais de reunião das Testemunhas de Jeová, conhecidos como Salões do Reino. Inteiramente independentes de um controlo central, eles selecionavam os seus próprios anciãos entre os espiritualmente maduros do seu meio, de acordo com as instruções de Paulo a Tito e Timóteo. Observavamos que estas pessoas eram cristãos consagrados. Eles eram fortemente individualistas, grandemente preocupados com certificarem-se da sua "chamada e eleição", e em serem transformados à semelhança do Senhor no seu pensamento, no seu modo de viver e no seu comportamento, bem como nas suas obras e nas suas vidas diárias.
Quando eles se reuniam nas suas reuniões ao domingo para um discurso bíblico e à quarta-feira à noite para uma oração e reunião de experiências, eles vinham para serem edificados, e para contribuírem eles mesmos para essa edificação. As reuniões eram verdadeiras festas de companheirismo e amor cristão. Eram altamente instrutivas -- nunca autoritárias e arbitrárias como são agora as reuniões realizadas nos Salões do Reino das Testemunhas de Jeová. Aqueles que vinham a estas reuniões estavam preocupados não só com o bem estar uns dos outros, mas eram feitos arranjos para visitas aos doentes e aos necessitados, e eram providenciados fundos pela Eclésia para prestar ajuda quando necessário. Estas reuniões estavam a encher um vazio na vida do meu pai e na minha. Eram uma bênção espiritual para nós.
Obras de caridade ocupavam um tempo considerável dos grupos dos Estudantes da Bíblia. Eles não só ajudavam os necessitados da congregação mas também muitas vezes pessoas de fora, onde quer que as encontrassem. Nós trazíamos tais infelizes e alimentávamo-los e vestíamo-los. Depois de termos cuidado das suas necessidades físicas, nós ministrávamos-lhes coisas mais valiosas do Espírito. Muitos eram deste modo salvos do desespero e trazidos à comunhão do cristianismo.

Torno-me Ativo

Os Estudantes da Bíblia gastavam muito tempo dizendo a outras pessoas sobre a sua fé, sobre os propósitos de Deus, e sobre a salvação em Jesus Cristo. É claro que, crescendo em tal ambiente, em breve comecei a praticar a pregação deste tipo. Entre 1921 e 1924 pude continuar a minha escolarização, obtendo alguma educação acadêmica. Todas as tardes eu gastava duas horas, das 3 às 5 da tarde, indo de casa em casa para contar às pessoas sobre o propósito de Deus. Eu sentia, tal como aqueles meus irmãos, que a incerteza prevalecente entre as pessoas em todo o lado requeria medidas especiais, esforços de pregação especiais, para traze-los próximo da verdadeira esperança e salvação. Esse era o motivo original da prática de ir de casa em casa.
Pela graça do Senhor, embora muito jovem, tornei-me altamente bem sucedido. Numa ocasião, que mesmo agora está viva na minha mente depois destes anos todos, encontrei uma senhora que disse que era possuída por demônios. (Havia muito disso durante esse período de tempo na Alemanha.) Ela começou a contar-me as suas dificuldades e as torturas às quais estava sendo sujeita. Sentado como estava, olhando para esta senhora cuja face era de um branco pálido, cujo cabelo estava penteado junto da cabeça e que tinha olhos encovados nas órbitas, eu fiquei tão assustado que não consegui levantar-me da minha cadeira. Por fim, quando percebi que ela queria que eu dissesse qualquer coisa, visto que eu não me conseguia levantar da cadeira, simplesmente caí sobre os meus joelhos e ela imitou-me. Orei durante uma boa meia hora, derramando instintivamente o problema dela perante o Senhor e pedindo ao Senhor que a ajudasse. Quando finalmente nos levantamos ela pediu-me que voltasse. Mais tarde, depois de muitas visitas, ela tornou-se uma Estudante da Bíblia. Ainda mais tarde, ela disse-me que o seu problema começou a desaparecer quando nós estávamos em oração durante aquela notável meia hora, de joelhos. Estando completamente sem saber como lidar com tal situação, sendo apenas uma mera criança de dezassete anos, eu lancei-me sobre o Senhor e coloquei-me nas Suas mãos; e Ele não desapontou nenhum de nós. Essa experiência foi um símbolo da poderosa força que Deus está disposto a derramar sobre o homem pelo Seu serviço. Nunca esquecerei o que aprendi naquele dia! Se não tivesse saído, levando as boas novas de salvação como todo o cristão deve fazer, tentando ajudar pessoas em aflição, certamente eu teria ficado a perder.
Durante estes três anos, enquanto ia à escola e trabalhava em Berlim ao mesmo tempo que era estudante, fui usado por Deus para ajudar dezassete pessoas a tornarem-se cristãos, três dos quais tinham sido ateus, um anarquista, e um comunista. (Berlim estava cheia destes grupos ímpios logo depois da guerra.)
Tudo isto foi feito, tal como todo o trabalho de pregação da Eclésia de Berlim naqueles anos, por impulso interior, não por compulsão da organização como é agora praticado pelas Testemunhas de Jeová de mentalidade teocrática. Era feito em Espírito. Paulo diz em Romanos 10:10: "É acreditando de coração que se obtém a justiça, e é confessando com a boca que se chega à salvação." Esta verdade foi demonstrada por estes cristãos de Berlim. Eu tinha tanto por que estar grato, e compreendi que tinha de fazer com todo o meu poder dado por Deus o que as minhas mãos encontravam para fazer, e o que o meu zelo me tornava capaz de fazer. Muitos outros sentiam o mesmo.
Claro que existiam muitos que não partilhavam esse sentimento. No entanto, esses não eram importunados para ir e pregar caso não o quisessem fazer. Permitia-se que eles se associassem conosco e nós continuávamos a ajudá-los a ver mais sobre os propósitos de Deus. Notei que depois muitos, de sua própria vontade, avançavam quando a ocasião surgia e saíam-se bem como homens em Cristo. Quando isso acontecia, o nosso regozijo era grande; pois era evidente que isto tinha sido causado pelo Senhor, e não pelo uso de força psicológica de uma Sociedade ou de algum Servo de Companhia.
Em novembro de 1921, como eu ainda não tinha sido batizado em água, cumpri alegremente essa injunção e requisito bíblico. Parecia-me que as coisas espirituais começavam a ficar mais fáceis e mais claras para a minha perspectiva daquele dia em diante. Parecia como se os céus se estivessem a abrir para a minha mente e coração consagrados. Compensa ser obediente a todas as coisas ordenadas por Jesus Cristo, e eu depressa percebi que me tinha tornado uma "nova criação" genuína.
Que ninguém deturpe este capítulo, apresentando-o como uma avaliação ou aprovação dos princípios doutrinais dos Estudantes da Bíblia. Estou apenas tentando explicar o que foi que me aproximou deles. Isto é necessário para descrever como e por que me envolvi e por fim fiquei escravizado a um dos sistemas mais ditatoriais e autocráticos do mundo.

2. Maquinações Iniciais

Problemas no Horizonte

Enquanto tudo isto estava a decorrer, e enquanto nos regozijávamos, nuvens escuras estavam a formar-se nos nossos horizontes espirituais! Nos bastidores da cena tranqüila, a nova liderança da Sociedade Torre de Vigia estava em turbulência lá longe em Brooklyn, Nova Iorque. Os líderes estavam febrilmente reorganizando o seu trabalho, tentando recuperar a sua anterior posição entre os irmãos por toda a parte e a sua posição junto das Eclésias dos Estudantes da Bíblia, que tinham gozado sob a liderança de Charles T. Russell. O ambicioso novo Presidente, Juiz Rutherford, era um estudante astuto da natureza humana, e a sua ira por ter sido colocado na prisão por alegada falta de americanismo não tinha limites. Ele precisava de se vingar contra o clero a quem ele acusava de o ter posto lá. Reconhecendo as potencialidades das condições instáveis em todo o mundo, ele teve como objetivo usá-las para construir o segundo piso do edifício da Torre de Vigia, sobre o primeiro piso construído por Charles T. Russell.
A liderança da Torre de Vigia sentiu que no interior da cristandade havia milhões de professos cristãos que não estavam bem alicerçados nas "verdades que foram confiadas aos santos", e que seriam facilmente arrancados das igrejas e conduzidos a uma nova e revitalizada Organização Torre de Vigia. A Sociedade calculou, e corretamente, que isto produziria vastas massas de homens e mulheres, se todo o assunto fosse sabiamente atacado.
Desta forma passou a ser formulado um plano para um grande e persistente ataque contra a cristandade organizada. A religião foi difamada como sendo a causa de todo o mal, e o fato de ser organizada foi proclamado como sendo a causa da sua iniqüidade.

Lavagem ao Cérebro

A ponta de lança neste novo ataque foi um panfleto intitulado The Fall of Babylon the Great [A Queda de Babilônia a Grande] (1919) cuja intenção era desfazer em pedaços os argumentos básicos a favor da estrutura organizada da cristandade. O panfleto proclamava taxativamente que a cristandade era a "Babilônia a Grande" de Revelação por causa do seu uso dos princípios da organização. A primeira fase desta lavagem ao cérebro era destruir conceitos antigos e idéias ligadas a eles, que estavam fracamente estabelecidos nas mentes de milhões de cristãos afiliados a igrejas -- tarefa que nesse tempo, tal como ainda hoje, é muito fácil.
Mas, claro, atacar e detonar a cristandade como Babilônia a Grande não era suficiente neste processo de lavagem ao cérebro. Quando se destrói algo, tem de se colocar alguma coisa em seu lugar. Este é o verdadeiro segredo da lavagem ao cérebro bem sucedida!
Qual haveria de ser esta substituição positiva de idéias? Em círculos cristãos era e tem sido sempre um fato evidente e aceite que Jesus ganhou vida eterna para todos aqueles que acreditam. Esta doutrina cristã, de que "todo aquele que vive e acredita em Mim nunca morrerá" (João 11:26), conforme falado por Jesus, e que é tão antiga como o cristianismo, a Sociedade Torre de Vigia subitamente pretendeu ter descoberto como uma verdade novinha em folha, ou "nova luz" que obteve do lugar secreto. Com astúcia maquiavélica, eles separaram-na do corpo de doutrina cristã e colocaram esta pérola num enquadramento artificial de palavras de interpretação humana. Depois apresentaram-na como uma nova doutrina da Torre de Vigia, com o slogan: "Milhões que agora vivem nunca morrerão", e expuseram-na num folheto com esse título (1920).
Vinda depois de um período em que milhões de pessoas tinham morrido nos campos de batalha e nos hospitais, e numa época em que multidões tinham sofrido devido a escassez de alimentos, em meio a tumultos e lutas, esta era uma declaração eletrizante! Torcendo esta maravilhosa declaração de esperança feita pelo Senhor, eles deram a entender que agora pela primeira vez este fato podia ser compreendido por esta geração, porém, somente se os homens deixassem a cristandade para trás e se juntassem à organização da Torre de Vigia. Note como a deturpação desta antiga doutrina cristã foi administrada. Enquanto Jesus disse em João 11:25, 26: "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e acredita em Mim nunca morrerá", a Sociedade Torre de Vigia estava na realidade a dizer: "Todo aquele que vive e acredita na Organização da Torre de Vigia e se junta a nós e distribui os nossos livros e revistas, e relata tempo [gasto na pregação] a nós, e assiste às nossas reuniões em detrimento de todas as outras, nunca morrerá." Eles sabiam que estavam a jogar pelo seguro, pois milhares de pessoas nunca veriam o que estava por detrás desta inconsistência.
Foi assim que o processo de lavagem ao cérebro começou na fase inicial, pela doutrinação de novos e velhos convertidos no modo de pensar da Torre de Vigia, estabelecendo os pontos de vista da Organização como sendo os pontos de vista da Bíblia; e continuou por gradualmente instilar intolerância e estreiteza de vistas no corpo de aderentes. É verdade que nesta fase o objetivo da Sociedade ainda estava muito longe da realidade; mas à medida que a minha história se for desenrolando o leitor ficará maravilhado com a esperteza e persistência com que este objetivo foi perseguido até que pensamento Teocrático, lealdade cega e ação de massas em passo de ganso foram exigidos de todos os aderentes.
Em Berlim, nós ainda estávamos em abençoada ignorância sobre o propósito destes dois movimentos em escala mundial: Queda de Babilônia a Grande e Milhões Que Agora Vivem Nunca Morrerão. Nós poderíamos ter sabido, visto que o slogan foi inventado pela Sociedade Torre de Vigia e não se ajustava a um enquadramento bíblico de modo nenhum. Mas nós distribuíamos cegamente milhões de cópias de ambos os folhetos. Só numa semana, eu costumava distribuir um milhar de cópias do panfleto Babilônia a Grande em Berlim e vendi milhares de cópias de Milhões Que Agora Vivem Nunca Morrerão. Eu costumava gastar todo o dia de sábado viajando no Ring-Bahn, um caminho de ferro que passa à volta da periferia exterior de Berlim, ficando em pé nos compartimentos de terceira classe a testemunhar em alta voz sobre Milhões Que Agora Vivem Nunca Morrerão, e vendendo o folheto por 25 pfennings. Em alguns sábados, tal como um vendilhão, eu despachava 300 cópias obtendo cerca de 75 Reichsmark como contribuições para a Torre de Vigia, entregando tudo isso ao representante deles. Assim muitos de nós, incluindo eu próprio, ajudamos a forjar em nosso redor uma camisa de forças que mais tarde fez de muitos de nós escravos da Teocracia.

"Com Palavras Forjadas Fazendo Mercadoria"

Ninguém pode ler a história e literatura da Sociedade Torre de Vigia sem pensar nas palavras de Pedro: "Através de avidez, com palavras forjadas eles farão de vós mercadoria" (2 Pedro 2:3). Vez após vez eles citaram palavras das Escrituras, arrancaram-nas do seu contexto e aplicaram-nas erradamente para servir os seus próprios propósitos. E eles fizeram isto com o objetivo de depois vender livros para obter contribuições em dinheiro para construir uma Organização da Torre de Vigia a nível mundial. Esta estratégia provou-se tão bem sucedida que tem sido constantemente usada até hoje.
Desde o princípio este truque foi usado para conseguir que as pessoas comprassem e lessem os livros e folhetos publicados pela Torre de Vigia. Estes escritos sempre contiveram um núcleo de verdade, particularmente no princípio, como isca. Mas o todo era tão enfraquecido e entrelaçado com jargão organizacional que punha a cabeça estonteada do leitor a andar à roda. Antes que a vítima descuidada se apercebesse, tinha desistido de todo o individualismo, tinha abandonado todo o pensamento pessoal e tinha desistido de toda a iniciativa própria.
Tudo isto foi pensado para colocar quem ouvia estas palavras numa posição em que ele leria unicamente os livros, folhetos e revistas da Sociedade. Depois de ter adquirido o gosto por esse tipo de alimento, a pessoa que assim recebia uma lavagem ao cérebro era não só levada a acreditar nesta literatura da Torre de Vigia, mas na sua nova posição como "Publicador do Reino" era compelida a vender esta literatura de casa em casa como a verdade do Evangelho. A pessoa observava horas estabelecidas e inspiradas pela Torre de Vigia e trabalhava de forma submissa para atingir uma quota de colocação de livros. Podia ser compelida contra os seus desejos e inclinações a ir para certos territórios, colocar certos livros e relatar o tempo gasto em fazer isso.
Consegue imaginar um exemplo mais claro de homens sendo transformados em mercadoria através do uso de palavras forjadas?
Aqui está um exemplo de como a Sociedade se precipitou sobre versículos bíblicos que poderiam servir os seus propósitos. Havia em todo o lado desassossego e incerteza a seguir à Primeira Guerra Mundial. Que melhor passagem das Escrituras podiam eles encontrar para o seu propósito do que Mateus 24? Esta passagem, afirmavam eles, referia-se definitiva e especificamente àquela época. É claro, ao fazerem esta afirmação eles convenientemente ignoravam que rumores de guerra e nação levantando-se contra nação, como ocorreu em 1914, não era algo único a essa época; tinha ocorrido antes.
Além disso, o nosso Senhor na profecia de Mateus 24 estava a falar de algo muito diferente. Ele estava a responder a perguntas dos seus discípulos, colocadas desta forma: "Jesus saiu do Templo e ia-Se embora, quando os discípulos se aproximaram d'Ele para Lhe mostrar as construções do Templo. Jesus respondeu: «Estais a ver tudo isto? Eu vos garanto: aqui não ficará pedra sobre pedra; tudo será destruído»." O nosso Senhor notou como os Seus discípulos ainda estavam ligados aos edifícios, ao templo e à cidade de Jerusalém, e como eles tinham estas coisas em alta consideração. Tudo isto, profetizou Ele, chegaria a um fim entre condições horríveis de tribulação, tal como o mundo nunca antes tinha visto. A pergunta dizia respeito a uma situação específica, e a resposta de Jesus aplicava-se a essa situação particular. Não existe em parte alguma evidência de que esta passagem tenha referência a um tempo em que uma Guerra Mundial específica libertaria uma reação em cadeia, como a Torre de Vigia interpreta os eventos que se seguiram à Guerra de 1914-1918.
Então, por que é que a Sociedade usa esta passagem? Bem, essa passagem serve o propósito dela. Usando indevidamente estes versículos e ligando-os com o desassossego prevalecente a seguir à Primeira Guerra Mundial, a Sociedade Torre de Vigia criou um enquadramento psicológico para dar um significado aparentemente profundo à sua campanha de publicidade. Tudo isto foi levado a um clímax com a declaração do versículo 14: "E esta Boa Notícia sobre o Reino será anunciada pelo mundo inteiro, como um testemunho para todas as nações. Então chegará o fim." Isto deu cor profética e justificou completamente a campanha de venda de livros da Sociedade!
A astuta imposição da profecia sobre o cenário do mundo a seguir à guerra foi um golpe de mestre. Seguiu um padrão que a Sociedade Torre de Vigia tem usado desde então com grande astúcia, habilidade consumada e grande sucesso financeiro e organizacional! Este é o pivot sobre o qual gira toda a estratégia da sua campanha mundial de proselitismo.

"Anunciem, Anunciem, Anunciem o Rei e o Reino"

Para construir uma organização mundial, o tipo de Sociedade Torre de Vigia que o Juiz Rutherford tinha em mente, era necessário muito dinheiro. Algures entre 1919 e 1922 os líderes, em típico estilo americano de negócios, pegaram na idéia de promulgar uma vasta campanha publicitária mundial para vender livros e folhetos publicados pela Sociedade Torre de Vigia, e a partir da sua venda reunir o dinheiro necessário para construir a antecipada grande organização mundial. Como pontapé de saída usaram a Convenção de Cedar Point de setembro de 1922.
Mas aqui enfrentaram um problema. Se eles anunciassem a Sociedade Torre de Vigia, tal movimentação não os levaria a lado nenhum. A Sociedade Torre de Vigia estava em desfavor na América, tinha sido dissolvida por ordem presidencial e os seus representantes, do Presidente para baixo, tinham sido detidos e condenados. Certamente não se poderia anunciar isso, a menos que fosse exclusivamente aos alemães. Então o que haveriam eles de anunciar? O seus livros? Não. Mas eles não ficaram confinados. Eles tinham aprendido bem a vantagem de vir com palavras forjadas para fazer mercadoria da Palavra de Deus -- e daqueles que seriam seduzidos a levar tal mensagem.
Eles decidiram ligar a sua campanha de publicidade à antiga esperança cristã do Reino de Deus e decidiram dar peso adicional através do uso da ordem de despedida de Jesus aos Seus discípulos: "Portanto, ide e fazer com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei. Eis que Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo" (Mateus 28:19, 20). Não tinham eles aí toda a garantia necessária para a sua campanha de venda de livros? Ao usarem ostensivamente este mandato, eles focaram a sua campanha no tempo do fim e deram a impressão de que estavam agora comissionados de um modo especial acima da antiga comissão. Assim, aqueles que estavam na assistência do Congresso de Cedar Point viram impressas sobre um enorme rolo, à medida que este se desenrolava devagar e dramaticamente desde o cimo do palco até baixo, o impressionante slogan: "Anunciem, Anunciem; Anunciem o Rei e o Reino."
Os cristãos sabem que esta campanha de publicidade de Cristo e do Seu reino começou lá em 33 A.D. e tem sido realizada sem interrupção pelos seguidores de Cristo em todo o mundo ao longo dos últimos dois mil anos. Mas a verdade é que isso tem sido sempre feito de forma inadequada e nunca à escala e com o zelo e entusiasmo que a devoção de todo o coração a Deus requer. Ao usarem o slogan "Anunciem, Anunciem, Anunciem o Rei e o Reino", os líderes da Torre de Vigia esperavam estabelecer um contraste eletrizante, e assim cobrir de forma discreta o verdadeiro propósito da sua campanha -- vender livros, folhetos e revistas publicados e impressos pela Torre de Vigia para reunir dinheiro para construir os tendões de uma organização mundial e para espalhar o seu tipo de pensamento!
Desde esse tempo em diante os líderes da Torre de Vigia continuaram a utilizar um pano de fundo histórico das Escrituras para legitimar a sua campanha e a sua correção. Eles usaram as experiências de Israel enquanto nação embrião desde o Êxodo até à construção do templo de Salomão como um esquema para a construção da sua Organização.Usaram os versículos do Êxodo para tirar inferências, especialmente Êxodo 11:2, 3: "Fala agora aos ouvidos do povo, para que cada homem peça ao seu companheiro e cada mulher à sua companheira objetos de prata e objetos de ouro. Concordemente, Jeová deu ao povo favor aos olhos dos egípcios." A Sociedade Torre de Vigia usou isto para apoiar o seu pensamento, para dar a cor da legalidade à sua ação de ir e espoliar pessoas do mundo, a quem costumavam chamar "egípcios", para construir a sua Organização. Mais adiante mostrarei quão lucrativa esta campanha se tornou para a Organização.

3. Entrando na Escravatura da Torre de Vigia

Individualidade Submersa

De 1925 em diante, os Estudantes da Bíblia viram-se confrontados com um problema real que resultou da nova política da Torre de Vigia. A questão era realmente esta: Devemos continuar a desenvolver a nossa individualidade cristã e comprar o nosso tempo entre o nascimento e a morte como uma nova criação; ou devemos submetermo-nos ao conceito da Torre de Vigia, comprar o nosso tempo entre o nascimento e a morte por vender livros e angariar dinheiro através desse meio e entregá-lo à Torre de Vigia, junto com um relatório do nosso tempo gasto neste trabalho todos os meses? À medida que o tempo passou, aqueles que colocavam o maior número de livros, gastavam mais horas em cada mês na campanha de vendas e entregavam mais dinheiro, eram os favorecidos; e aqueles que continuavam a comprar ou redimir o seu tempo em produzir frutos do Espírito, foram amesquinhados cada vez mais, foram gradualmente afastados, e por fim foram marcados como "servos maus".
Em várias Eclésias dos Estudantes da Bíblia havia apenas um reconhecimento lento do significado destas tendências. Acreditando nos seus corações que todo o homem tem de decidir tais assuntos por si mesmo, conforme guiado no seu estudo das Escrituras pelo Espírito Santo, esses grupos não viram o perigo que os defrontava na dinâmica da situação conforme provocada e sustentada continuamente a partir de Brooklyn, pela Sociedade Torre de Vigia.

Entrando na Escravatura

Durante este período a Sociedade também estava a passar por um processo de organização de grandes dimensões. Escritórios e locais de impressão foram expandidos, e a mecânica da grande campanha de publicidade estava a ser desenvolvida. Encomendas de livros, folhetos e panfletos começavam a chegar em grande número. Na Alemanha nesse tempo tornou-se necessário mudar os escritórios da Sociedade de Barmen no oeste para Magdeburg, na Alemanha central, onde foram compradas grandes propriedades com dólares americanos de dinheiros já recebidos através da campanha de venda de livros na América.
Foi durante esse tempo que o Diretor da Filial alemã começou a recrutar ajuda em Betel, em Magdeburg. Em 18 de agosto de 1924 entrei para Betel, sede da Filial alemã da Sociedade Torre de Vigia. Não me apercebi nesse tempo que estava a entrar numa escravidão tão profunda que não poderia emergir livre novamente como cristão até terem passado trinta anos, e ter gasto a maior parte da minha vida. Não me apercebi que estava a deixar para trás a individualidade cristã e estava a entrar numa espécie de existência zombi, meio indivíduo e meio massa. Ali, naquele momento, tornei-me numa peça da engrenagem de uma das maiores subversões de todos os tempos.
Tal como a maioria dos Estudantes da Bíblia naquele tempo, eu sempre estivera preocupado com certificar-me da minha chamada e eleição como uma pessoa, e com a associação com os meus irmãos em Berlim e nas nossas Eclésias locais. Eu tinha um conhecimento vago e estava pouco preocupado com as ações na sede da Sociedade Torre de Vigia em Brooklyn, ou até em Magdeburg. Tal como muitos Estudantes da Bíblia, eu ainda aceitava como um dado adquirido o estatuto da Sociedade, tal como estabelecido por ela própria quando ainda era nova e humilde, nomeadamente, que ela era "a besta de carga" para os irmãos. Enquanto tal, ela abastecia-nos de ajudas, Bíblias e a revistaSentinela, que publicava. Não vimos qualquer razão por que uma organização não devesse fazer essas tarefas para nós.

Um Nítido Contraste

Assim que entrei ao serviço da Torre de Vigia em Magdeburg, senti uma mudança arrepiante.
Em Berlim eu tinha-me movimentado nos círculos de uma das maiores Eclésias de Estudantes da Bíblia do mundo, e tinha gostado muito disso. O espírito era de amor fraternal e liberdade. A nossa era uma associação de cristãos, que eram gerados pelo espírito, e que através de Cristo tinham uma posição pessoal perante o trono de Deus. Tudo isto era para o propósito de companheirismo e edificação.
Desse companheirismo e associação, entrei para a enérgica atmosfera organizacional da sede da Sociedade Torre de Vigia em Magdeburg. Em vez de companheirismo veio a ênfase em tabelas, quotas e discussão da política de produção, estimativa de custos e preocupação com organização. Em vez de orientação do Espírito, ouvimos a voz orientadora da liderança da Torre de Vigia. A liberdade pessoal foi substituída por lealdade cega às diretivas da Torre de Vigia. Enquanto nas nossas reuniões de Estudantes da Bíblia em Berlim tínhamos ocasião de ter o "Espírito Santo testificar com o nosso espírito de que somos filhos de Deus", agora tínhamos de escutar o servo de Companhia testificar que éramos bons Publicadores do Reino na medida em que tínhamos cumprido as quotas estabelecidas para nós.
O maior contraste residia no fato de as nossas Eclésias terem sido uma associação de cristãos, ao passo que as reuniões a que eu agora assistia em Magdeburg consistiam numa "multidão mista". De modo nenhum todos eram nascidos do Espírito. E esse padrão tem sido seguido nos Salões do Reino até hoje. Numa altura, no início de 1931, havia as seguintes classes em associação, governadas pela Torre de Vigia: classe de Mordecai-Noemi, classe de Rute-Ester, Jonadabes, "pessoas de boa vontade". Conforme será explicado adiante, é dito às Testemunhas de Jeová da classe de Jonadabe, e elas próprias afirmam isso, que nunca poderão ser geradas pelo espírito, mas antes obtêm a sua frutificação através da associação com a Organização da Torre de Vigia.
Embora esta condição prevaleça em toda a Alemanha atualmente, só havia um sítio onde isso acontecia em 1924. E eu tinha de ir para lá, e voluntariamente!

Servindo em Magdeburg

Embora eu só tivesse 19 anos de idade, ajustei-me rapidamente ao quadro de Magdeburg. A novidade da situação atraía-me. Tendo sido criado entre alemães, eu era um rapaz obediente, treinado desde os meus primeiros dias a respeitar as instruções e ordens dos mais velhos e dos meus superiores. Também possuía dentro de mim o amor nativo que os alemães têm pela ordem e organização.
Acabei por ir parar ao escritório e em breve fiquei envolvido no trabalho promocional da revista Das Goldene Zeitalter (A Idade de Ouro). Fui instrumental em introduzir distribuição de cópias em vez de distribuição de assinaturas, ou uma companhia levava a cabo distribuição a nível local. O resultado foi que entre 1925 e 1927 vimos a edição disparar de 50.000 cópias para 325.000 cópias por cada número.
Parecia que eu estava aqui no meu elemento, e cada vez mais fui levado e tornei-me profundamente envolvido em esquemas organizacionais. Perdi de vista "o meu primeiro amor". À medida que me envolvi dessa forma, tive cada vez menos tempo para auto-contemplação, para estudo da Bíblia e religião pessoal. Passei muito pouco tempo vivendo e "caminhando no Espírito" e cada vez mais tempo atendendo a Sociedade Torre de Vigia e as suas tarefas. Escusado será dizer que a minha vida da "nova criação" diminuiu até uma mera cintilação, e em vez de viver na "novidade de vida", comecei novamente a vida dos velhos "elementos mendicantes". O sonho de uma "Sociedade Mundial" (que então eu ainda não podia visualizar como uma sociedade de escravos), tal como o sonho de uma nova e grande Alemanha acalentado por milhões de alemães da minha geração, tinha substituído a realidade de uma vida em Jesus Cristo.

Predições do Fim do Mundo

A Sociedade Torre de Vigia sempre foi marcada por um certo grau de excentricidade. Eles adoravam predizer de forma sensacionalista datas para o fim do mundo. Eles tinham originalmente predito o fim do mundo para 1914. Mas nesse ano muitos Estudantes da Bíblia que acreditaram nessa predição foram deixados ao abandono quando o Reino que esperavam não apareceu. Isto, claro, deixou um mau sabor na boca de muitos. Porém, isso não desanimou os líderes.
Durante os anos seguintes, especialmente no panfleto The Fall of Babylon the Great (A Queda de Babilônia a Grande) e no folheto Millions Now Living Shall Never Die (Milhões Que Agora Vivem Nunca Morrerão), a Sociedade Torre de Vigia apenas mudou a data para 1925. Eles mantiveram de forma proeminente essa nova data perante nós e perante todas as pessoas, como sendo o ano em que o Reino viria com o reaparecimento na terra dos notáveis ou príncipes do Velho Testamento entre os Estudantes da Bíblia.
Esta expectativa foi espalhada por todas as publicações da Organização nesse tempo e deixou uma marca profunda nas nossas mentes. De fato, isso praticamente fez de muitos de nós excêntricos irracionais. Por exemplo, lembro-me bem que no outono de 1924 o meu pai ofereceu-se para me comprar roupas de que eu necessitava muito. Pedi-lhe para não o fazer porque já só faltavam poucos meses para 1925, e nesse ano viria o Reino. Isto agora parece-me completamente ridículo. Mesmo que o Reino tivesse vindo conforme esperado, entretanto eu precisava muito de novas roupas.
A Sociedade Torre de Vigia continuou a espalhar esta grande expectativa em alto e bom som. Ela usou esta expectativa para criar um pano de fundo de esperança, e focou-a numa data que aguardavam, para poderem expandir a sua campanha de publicidade sobre o Reino da Torre de Vigia.
Porém, nesse tempo alguns dos mais maduros entre os Estudantes da Bíblia começaram a compreender e a reparar na discrepância entre as declarações da Sociedade sobre 1925 ser o princípio do Reino e o fim do atual mundo iníquo, e as crescentes atividades da Sociedade na compra de terrenos e edifícios, encomenda de máquinas de impressão, tudo para a expansão! As duas coisas não condiziam uma com a outra.

Uma Nova Nação -- Concebida na Torre de Vigia

Com a chegada de 1925 foi desmascarado o verdadeiro plano para uma organização mundial, concebido pela Sociedade Torre de Vigia. No início desse ano foi tambémintroduzida uma mudança doutrinal. No artigo da Sentinela intitulado "Nascimento de uma Nação", a Sociedade Torre de Vigia começou a construir a sua idéia organizacional. Indicou corretamente que o cristianismo seria "uma nação de reis e sacerdotes". Mas, depois de ter declarado esta verdade bíblica gloriosa, a Sociedade passou a subverter este conceito ao proclamar-se a si mesma essa nação; ou melhor, proclamou que aqueles organizados por ela eram coletivamente esta nova nação.
Embora Pedro tenha mostrado conclusivamente que cada cristão como indivíduo seria uma parte dessa nação sob Deus e Cristo, a Torre de Vigia distorceu este conceito e interpretou-o como referindo-se a uma classe. Assim esta nova nação, nascida em 1925 através do fulgor da revista A Sentinela, teria como sua composição final: uma Classe do Escravo Fiel e Sábio, uma Teocracia de ouro, reinando de cima para baixo, bem como uma massa Teocrática de Jonadabes não bíblicos, que não tem qualquer parte neste Reino ou Nação, mas estão em sujeição absoluta às suas ordens. Esses súbditos não só seriam escravizados por esta nova nação para pensarem como a classe reinante, mas também para trabalhar exatamente como lhes ordenavam. Este conceito, conforme veremos, incorporado no artigo "Nascimento de uma Nação", tem sido posto em prática minuciosamente.
Assim, durante este período artificialmente criado de grande expectativa, quando se aguardava com esperança o Reino e o aparecimento dos Príncipes, emergiu uma nova Naçãono meio das nações do mundo que posteriormente num sentido universal se tornaria uma sociedade do novo mundo. Esta nova Nação foi assim concebida à traição, dedicada ao princípio de que todos os homens não são iguais e têm de ser divididos em classes, e organizados para o propósito de todos os sujeitos a ela serem escravos Teocráticos. E concebeu uma sociedade de escravos que devia durar mil anos. Talvez o leitor pense que isto é forçado! Observe como isto será provado neste livro através de fatos incontestáveis.

"Pacto ou Sacrifício: Qual?"

Em 1925 apareceu ainda outro artigo na Sentinela que foi revolucionário. Tinha o título "Pacto ou Sacrifício: Qual?" De forma vívida, colocava o conceito de personalidade ou individualidade em contraste com um novo conceito, nomeadamente, o de Publicador do Reino.
A individualidade tinha até então caracterizado todos os Estudantes da Bíblia, tipifica todos os cristãos genuínos hoje, e tem marcado todos os que alguma vez foram verdadeiramente gerados pelo espírito. Os filhos de Deus entraram através de Jesus Cristo num relacionamento altamente pessoal com Deus, o Pai. Este relacionamento é tão altamente pessoal, e o seu aspecto é tão importante, que tal nova criação só pode crescer e amadurecer à medida que recebe o Espírito Santo enviado pelo Pai. Nesta caminhada no Espírito, o cristão individual progride na luz do Evangelho em direção àquele dia em que em glória ele será um dos sacerdotes daquela Nação de reis e sacerdotes. Naturalmente, sob tal ativação, vigiar a nossa própria conduta pessoal e melhorar a nossa vida sincronizando-a com os conceitos do cristianismo são de importância fundamental. Nos círculos dos Estudantes da Bíblia isso era chamado "desenvolvimento do caráter".
A Sociedade Torre de Vigia, decidida a utilizar todo o tempo dos seus potenciais escravos para fazer avançar a sua campanha de publicidade, começava agora a afirmar que o desenvolvimento do caráter era um sacrifício de individualidade, e que impedia esses cristãos de cumprirem a sua parte no Pacto. Afirmando ser o porta-voz deste Pacto, a Sociedade enfatizou que ao focar a atenção em si mesmo e no seu posicionamento individual perante o Senhor, a pessoa estava nesciamente a desperdiçar o seu tempo e não a redimi-lo.
Além disso, afirmava a Sentinela, a pessoa era como um dado ou uma personagem. Nenhuma quantidade de desenvolvimento ou de cultivo poderia mudar aquele que tinha sido assim moldado ou lançado. Por isso seria mais sábio o Estudante da Bíblia deixar para trás a aplicação individual do cristianismo e avançar e operar num plano mais vasto.
Desta argumentação seguia-se que tais pessoas fariam melhor se se tornassem Publicadores do Reino. O tempo que agora usavam néscia e inutilmente para edificação e desenvolvimento do caráter podia ser melhor gasto pregando e vendendo livros, folhetos e revistas, assistindo a reuniões especiais para treino adicional como Publicador, e contando e relatando todo o tempo gasto nesse trabalho em folhas de relatório para a Sociedade Torre de Vigia. Portanto era proposto aqui substituir viver para o Senhor por viver para a Sociedade. Era proposto que em vez de produzir para Deus os nossos próprios frutos do Espírito cristãos, faríamos melhor em produzir frutos do reino. Em vez de dar louvor a Deus na forma de obras de gratidão, deviam ser enviadas folhas de relatório para a Sociedade Torre de Vigia, relatando todo o tempo gasto neste trabalho e indicando cuidadosamente o número de livros, folhetos e revistas vendidas. Assim a Sociedade Torre de Vigia na prática tomou o lugar de Deus no relacionamento do Publicador.
A Sociedade Torre de Vigia forçou a introdução desta última inovação. Interessada na realização de uma gigantesca campanha de vendas como em 1922, eles queriam ter à sua disposição uma aparência de base bíblica para as suas artimanhas e registos organizacionais. E posteriormente eles queriam focar de forma hipnótica o pensamento de todos os Publicadores do Reino numa linha organizacional. Isto devia constituir a segunda fase da lavagem ao cérebro, nomeadamente, a aniquilação da individualidade em favor da ação de massa robotizada, ou como era agora chamada, "ação Teocrática".
Estas mudanças de rumo doutrinais e organizacionais eram evidentes no início de 1925 e estabeleceriam a tendência para a emergência da Teocracia da Torre de Vigia de 1938. Assim foi lançada a fundação para a escravização de todos os que viriam a estar debaixo do jugo da "Teocracia". E eu era um deles!

4. Um Olhar Sobre a Organização na América


Para que o leitor possa compreender no que eu me tinha metido, permita-me que conte o que tinha acontecido e estava a acontecer ao movimento dos Estudantes da Bíblia na América e em todo o mundo.

O Juiz Assume o Controlo

Assim que Charles T. Russell morreu (1916), desenrolou-se nos bastidores uma guerra pelo seu manto. O testamento de Russell deixou instruções para que certos homens lhe sucedessem. Porém, o conselheiro legal, Juiz Rutherford, conseguiu manobrar procurações da Corporação de tal modo que emergiu como Presidente da Sociedade Torre de Vigia. Com o objetivo de acalmar um pouco o furor que se levantara devido ao modo autoritário como esta subversão foi realizada, ele conseguiu criar no início da guerra um problema fora da Organização através da sua política editorial na revista Sentinela, cujo desfecho seria colocá-lo numa posição de herói.
Em resultado da política editorial aparentemente contrária à guerra adotada para a revista Sentinela, o Juiz Rutherford e os outros diretores da Sociedade foram detidos, a Sociedade Torre de Vigia foi legalmente dissolvida, e o Juiz e outros foram julgados e condenados. Foram sentenciados para servirem um total combinado de 80 anos na Penitenciária Federal de Atlanta, Georgia. Claro que, assim que a América ganhou a guerra, Rutherford fez os seus amigos circularem uma petição para um novo julgamento, e posteriormente ele não só foi libertado, mas também completamente exonerado. O advogado Rutherford tinha usado habilmente uma situação fortuita para criar uma condição com a qual podia diminuir a pressão que se acumulava no interior da Organização, provocada pela sua invulgar eleição como Presidente. Ele foi inteiramente bem sucedido em desviar as atenções do modo como se tornou Presidente da Sociedade Torre de Vigia, e utilizou a prisão e a posterior condenação para criar à volta das suas ações uma aura de ser o servo de Deus e o escolhido para conduzir esta "Nova Nação" a coisas melhores. Esta aura nunca o abandonou até ao dia da sua morte.
O Juiz, no seu pronunciamento de 1919, tinha conseguido outro resultado favorável para a Sociedade. Ao opor-se aparentemente ao apoio que a cristandade deu à guerra, ele tinha sido bem sucedido em separar a Sociedade Torre de Vigia de todas as outras organizações que afirmavam ser cristãs. Agora tornava-se necessário transformar a Sociedade Torre de Vigia numa organização poderosa, que não só abasteceria os Estudantes da Bíblia com literatura e ajudas bíblicas e organizaria congressos para eles, mas também focaria a atenção do mundo nesta Torre de Vigia esotérica, exatamente no sentido em que a primeira Torre de Vigia de Babel foi elevada acima do comum dos humanos. Recordemos que a primeira Torre de Vigia de Babel foi construída em desafio a Deus, com o objetivo de pôr os homens a salvo de qualquer possível dilúvio que pudesse inundar novamente os sítios baixos. A Sociedade Torre de Vigia de Brooklyn estava agora a começar a afirmar que o seu edifício se tornaria o refúgio que levaria milhões de pessoas através do Rubicão, por assim dizer, isto é, através do Armagedom para o Milênio, onde emergiria como "A Sociedade do Novo Mundo" para durar mil anos.

O Juiz Planeia Mudanças

Para construir esta Sociedade do Novo Mundo, tornou-se necessário mudar a política da Organização. Tinha-se de se dar à Organização um foco para a frente, com um objetivo e um ideal incorporados num enquadramento bíblico. Durante algum tempo, usando como base os livros de Charles T. Russell que eram aceites por todos os círculos de Estudantes da Bíblia, ele fixou-se no tema do "Reino", usando a Guerra Mundial e as condições em crescendo como fachada para a necessidade de uma campanha de testemunho mundial.As primeiras tentativas dele nesta direção em 1919 tinham sido altamente bem sucedidas. Isto levou-o a convocar um Congresso a ser realizado em setembro de 1922 em Cedar Point, Ohio, onde, conforme relatado anteriormente, os delegados do Congresso reunidos foram convencidos a aprovar entusiasticamente uma resolução patrocinada por ele, intitulada "Anunciem, Anunciem, Anunciem o Rei e o Reino!"
O Juiz sabia que seria preciso mais do que apenas um mote para pôr os seus planos a funcionar. Até aquele tempo, os Estudantes da Bíblia caracterizavam-se por uma individualidade tão áspera que afirmavam ter fugido de várias organizações para se tornarem e permanecerem livres e sem entraves na sua busca de estudos da Bíblia e na sua vida como cristãos. O seu mote de "Não-Conformidade" tornou-se uma palavra de ordem nas décadas de 1880 e 1890. Para vender a essas pessoas a idéia de uma super-organização, era preciso não só uma mudança de política, mas também uma perspicácia fora do comum. O Juiz tinha-a!
Como é que isso foi feito? Mais uma vez, foi levantado um problema fora do núcleo dos Estudantes da Bíblia e fora da órbita do seu pensamento. Aproveitando-se da oposição ostensiva dos Estudantes da Bíblia em relação à cristandade organizada, o Juiz Rutherford conseguiu tornar-se conhecido em todo o mundo como "inimigo implacável da cristandade organizada". Exatamente ao mesmo tempo em que lançava esta cortina de fumo através do horizonte das congregações de Estudantes da Bíblia em todo o mundo, ele começou a preparar o terreno para uma organização muito mais absoluta e muito mais rigidamente organizada do que a Igreja Católica, à qual se opunha tão amargamente. Esta organização não só tem a presunção de tomar o lugar das igrejas cristãs organizadas que foram acusadas e condenadas de forma tão clamorosa pela Sociedade Torre de Vigia de 1919 em diante, mas também pinta a sua organização como "A Organização de Deus", sendo as igrejas e todos os outros a organização do Diabo.

A Sociedade Põe a Casa em Ordem

Com este novo grupo de homens agora bem estabelecido em Brooklyn, Nova Iorque, no lugar de condutor da Sociedade Torre de Vigia, e com este objetivo de política focada para a frente agora adotado, tornou-se necessário para a Sociedade Torre de Vigia pôr a sua própria casa em ordem. Era necessário arrancar os elementos recalcitrantes e cerrar fileiras, mesmo que isso significasse dizimar aqueles ligados com o movimento original dos Estudantes da Bíblia.
Era evidente que o núcleo mais duro de oposição à política da Sociedade encontrava-se nas congregações independentes de Estudantes da Bíblia que eram completamente autônomas, que elegiam os seus próprios anciãos e que tinham os seus próprios arranjos de pregação. Os livros, folhetos e revistas da Sociedade não eram usados como currículo nessas reuniões, só a Palavra de Deus formava material para discussão e estudo. Como quebrar tal baluarte de individualidade e vergá-lo a uma Organização central integrada -- esse era o problema.
Os passos iniciais nesta direção, como vimos, já tinham sido tomados pelos próprios Estudantes da Bíblia ao aceitarem a liderança da Sociedade Torre de Vigia como seu campeão, tão evidente na dissolução da Sociedade em 1918, e novamente mais tarde quando deram amplo apoio à resolução patrocinada pela Sociedade Torre de Vigia e a autorizaram a conduzir uma campanha de testemunho mundial. Note-se, porém, que só uma pequena percentagem de Estudantes da Bíblia aceitaram esta política, a maioria aquiesceu passivamente.
O passo seguinte foi tomado pela Sociedade Torre de Vigia com a publicação de um conjunto inteiramente novo de livros e folhetos, com uma nova inclinação, pavimentando o caminho para a organização total. Esta literatura foi concebida para influenciar a mudança de pensamento em todos esses assuntos entre as congregações dos Estudantes da Bíblia e substituir gradualmente o pensamento individual por uma mentalidade organizacional. Para tornar tais meios disponíveis a baixo preço e em grandes quantidades, a Sociedade Torre de Vigia comprou as suas próprias máquinas de impressão, e com o livro The Harp of God (A Harpa de Deus, 1922) começou a sua carreira na publicação e impressão. Depressa conseguiu distribuir livros maiores por apenas 35 cêntimos cada um, baixando depois para apenas 25 cêntimos por livro; e uma torrente destes começou a fluir para o mundo.
O uso de livros, folhetos e revistas publicados pela Sociedade Torre de Vigia tinha um triplo propósito: (1) provocar pensamento massificado no interior da órbita da Organização em todos os assuntos relativos às Escrituras; (2) ocupar todos os Estudantes da Bíblia, se possível, com a venda destes livros para toda a humanidade, e ao fazê-lo, levantar motivos para clivagens; (3) formar uma reserva financeira de fundos para apoiar uma futura campanha de aumento sustentada a nível mundial.
Claro que, a princípio, eram muito poucos os Estudantes da Bíblia que usavam estes livros nas congregações; e depressa deflagrou desacordo acerca de muitas coisas expressas neles, e a dissensão aumentou.
Com o objetivo de clarificar o assunto até ao ponto de uma crise, a Sociedade instituiu no início de 1925 um método rígido de contar e relatar a ela todo o tempo gasto em testemunhar com os seus livros. Escusado será dizer que isto provocou uma clivagem em todo o mundo, com muitos a recusarem relatar tempo e colocações e ainda outros recusando até colocar os livros da Sociedade. Na década 1921-1931, quase três quartos dos Estudantes da Bíblia originalmente associados livremente com a Sociedade saíram dela. Isso era exatamente o que a nova Sociedade Torre de Vigia esperava conseguir.
Em resultado desta dizimação, a Sociedade depressa teve o quorum para operar sem oposição entre aqueles deixados para trás. Agora ela tinham liberdade para ignorar a individualidade. Sem oposição, podia agora estabelecer requisitos de tempo mensais mínimos fixos para cada Publicador, bem como quotas de número mínimo de livros a serem vendidos por mês. Antes disso, para o seu capital de operação a Sociedade dependia inteiramente de contribuições voluntárias enviadas pelos Estudantes da Bíblia. Mas com o programa mundial de venda de livros agora a funcionar a todo o vapor, em breve o dinheiro começou a entrar, tornando-lhes possível não só ter capital de operação suficiente mas também expandir rapidamente as suas gráficas e mover-se para novos campos de operação. Isto continuou mesmo durante o período da grande "depressão".
Foi assim que a Sociedade estabeleceu um modo de "adoração" no interior da Organização baseado em quotas e quantidades de negócios, fazendo 'dos homens mercadoria', como os judeus tinham feito no seu templo nos dias de Jesus (João 2:16). Os recrutas para esses Publicadores foram encontrados nas novas multidões orientadas, entre aqueles treinados na idéia de pensamento de classe em oposição a pensamento individual. Estes, claro, estavam em maioria depois da sangria de três quartos dos Estudantes da Bíblia ter sido realizada de forma tão hábil.
À medida que a década de 1920 passava, houve uma mudança vincada nos Estudantes da Bíblia originais que continuaram com a Sociedade Torre de Vigia. Eles já não estavam muito interessados naquilo que antes tinham chamado a caminhada cristã no Espírito como Nova Criação "certificando-se da sua chamada e eleição". Agora eles estavam aberta e admitidamente mais interessados em converter o mundo para a sua maneira de pensar, e em ter números ainda maiores do seu lado para empregá-los no "Serviço do Reino", medido em termos de quotas de tempo, quotas de colocação de livros, quotas de assistência às reuniões, etc. Atingir quotas tornou-se primordial no seu pensamento.

5. Um Olhar em Frente


Para que o leitor possa compreender o que vou relatar a respeito das minhas experiências na Alemanha e mais tarde na América, será necessário olhar em frente. Isto fornecerá uma perspectiva de fundo valiosa, sem a qual muito do que tenho a dizer não teria significado.

Classe Sobre Classe

A Sociedade Torre de Vigia estava decidida a eliminar o último vestígio de pensamento e acção individual no interior das suas fileiras. O resultado foi o crescimento e amadurecimento de classes de novos convertidos em vez de indivíduos, como anteriormente. Eles estavam assim prontos para o próximo passo, o de promulgar e designar oficialmente classes no interior da Organização.
Quando o cenário ficou devidamente preparado, a Sociedade começou a recriar-se na forma de uma super classe. Assim, eles estabeleceram-se a si mesmos como "a Classe do Servo Fiel e Sábio" "a quem todos os bens foram dados", para erradicar de uma vez por todas a velha crença dos Estudantes da Bíblia de que Charles T. Russell tinha sido aquele "servo fiel e sábio".
É interessante considerar retrospectivamente o procedimento que os líderes da Sociedade usaram para criar as classes. Uma multidão de seguidores surgiu dos seus grandes campos de sementeira através de distribuição em massa de livros da Torre de Vigia, e foi regada através de estudos de livros e de Sentinelas nos Salões do Reino em fase de crescimento. Esta massa de seguidores era diligentemente treinada para se tornar inteiramente dependente para alimento espiritual do lançamento de um número quinzenal daSentinela, e para esperar anualmente alguma nova verdade organizacional num livro e algumas verdades menores em folhetos, suficientemente novas de cada vez para fazer cócegas nos ouvidos das classes que estavam desejosas de ouvir coisas fabulosas. À medida que este processo foi ganhando balanço, surgiram na doutrina e na realidade, como um desenvolvimento natural e quase necessário, primeiro a classe de Mordecai-Noemi, depois a classe de Rute-Ester, e finalmente a vasta classe dos Jonadabes. Repare que cada classe emergiu num estrato mais baixo, e quanto mais baixo o estrato, maiores os números, denotando a diminuição de qualidade dos novos convertidos, reminescente da estrutura teocrática da imagem em Daniel 2:31-34, com a sua cabeça de ouro, peito de prata, quadris de cobre, pés de argila e ferro.
Tinha sido dito aos da classe de Mordecai-Noemi que eram os últimos membros do Cristo organizado na terra. Este "Cristo" consistia no próprio Cristo e 144.000 membros. Quando muitos desta primeira classe se tornaram infiéis ao não obedecerem à Sociedade Torre de Vigia, a classe de Mordecai-Noemi foi substituída por uma classe de recrutas mais nova, a classe de Rute-Ester. Convenientemente, descobriu-se que a porta para a chamada celestial não tinha sido inteiramente fechada nos tornozelos da classe de Mordecai-Noemi. Restava exactamente o tempo necessário para que a classe de Rute-Ester entrasse. De facto, a porta para a chamada celestial, segundo a luz da Torre de Vigia, estava realmente no processo de se fechar à medida que eles estavam a entrar. Mas com a entrada deles a porta fechou-se e Cristo estava completo. Em seguida, eles começaram a criar uma classe maior, mas muito mais baixa, sobre a qual haviam de servir como guarda-chuva e sobre quem podiam trabalhar de cima para baixo. Esta nova classe, conhecida como os Jonadabes, era mencionada como "os cortadores de madeira e os carregadores de água", usando como padrão o relacionamento de escravatura dos gibeonitas para com Josué e os israelitas (Josué 10:10-27). Os Jonadabes não são encarados como irmãos em Cristo; pois os Jonadabes, diz-se, não podem ser gerados pelo espírito. Lembre-se, a porta está fechada! Assim, como hoje a maioria das Testemunhas de Jeová são da classe de Jonadabe, segue-se que a maioria das Testemunhas de Jeová já não são cristãos.
Aí tem as três classes, e numa posição elevada para cobri-las a todas, para ensiná-las a todas, e para alimentá-las a todas, está a Sociedade Torre de Vigia como a "Classe do Servo Fiel e Sábio".
Desse dia fatal em diante, os membros destas classes passaram a acreditar em todas as fábulas que a comissão editorial da Sentinela inventou e concebeu para a sua "edificação", apesar desta comissão se contradizer vez após vez. De tudo isto é evidente que estas classes permitiram cegamente que se elevasse acima delas esta classe de instrutores, cujas doutrinas eles seguem unicamente porque isso faz cócegas aos seus ouvidos, e a quem permitem que se intitulem "a Classe do Servo Fiel e Sábio" com sede em Columbia Heights, n.º 124, Brooklyn, Nova Iorque.

Um Denário Para Cada Um

Neste momento a Sociedade Torre de Vigia, como "Classe do Servo Fiel e Sábio", começou o seu avanço mundial. Um jogada preparatória foi declarar que estas classes patrocinadas pela Torre de Vigia eram partes componentes da "Nova Nação". Assim eles usaram o velho truque de criar a doutrina do território extra. Isto presumivelmente colocou todas as suas práticas em segurança, fora do alcance da crítica. Com isto a Organização estava preparada para ser lançada num ritmo acelerado.
Nesta altura, dezenas de milhares estavam a entrar como produtos de um evangelho da Torre de Vigia novinho em folha, que aparecia em livros, folhetos e revistas publicados há pouco tempo, escritos unicamente para apelar aos ouvidos receptivos destes novos convertidos. Mas rapidamente um número crescente deste chamados "convertidos" sentiram que não eram destinados para ir para o céu. Este tipo de pensamento, é claro, foi encorajado pela Sociedade Torre de Vigia; pois, tendo-se comprometido anteriormente com um Cristo organizado em apenas 144.000 membros, eles tinham inadvertidamente limitado a expansão da sua Organização. Isto tinha de ser corrigido. Portanto a Sociedade declarou, convenientemente, que a sua própria posição era a do Restante de Cristo na terra, ou os últimos; e que a posição de todos os novos que estavam a entrar era a da "Grande Multidão", que já não podia ser uma classe gerada pelo espírito como a outra.
Com o objectivo de criar um apoio bíblico para a mudança de uma classe limitada de servos de Cristo para as vastas populações de escravos da Torre de Vigia, que eles queriam levar para a Organização, a Sociedade usou a parábola do denário (Mateus 20:1-16). Eles interpretaram a Sociedade Torre de Vigia como sendo, na linguagem desta parábola, "o vinhedo de Deus", e os doze anos entre 1919 e 1931, as doze horas da parábola. Eles declararam que este dia de trabalho agora tinha acabado e que a Sociedade Torre de Vigia, como "Mordomo Fiel e Sábio" a quem todos os bens tinham sido dados, estava agora prestes a pagar o denário. No congresso em Columbus, Ohio, realizado em 1931, no fim desse dia designado pela Torre de Vigia, a Sociedade Torre de Vigia deu aos seus novos convertidos, e aos que continuavam com eles, um novo nome: "Testemunhas de Jeová". Esse novo nome era o denário deles!
A recompensa tanto para o Restante, ou cristãos, como para a Grande Multidão, ou Jonadabes não-cristãos, era a mesma. Esta foi a alavanca usada para indicar a amálgama de ambos os tipos, conforme simbolizado na imagem de Daniel 2:31-34 por uma mistura de ferro e argila nas pernas. Assim indicava-se que estas "testemunhas", uma vasta multidão misturada, eram as "pernas" da Organização.
Aqueles que murmurassem contra todos receberem por igual este mesmo nome, "Testemunhas de Jeová", seriam como aqueles da parábola que tinham vindo cedo para o vinhedo e que tinham murmurado ao verem os retardatários receber o mesmo pagamento. Desta forma, os líderes da Sociedade agora afirmavam que somente eles eram "a Classe do Servo Fiel e Sábio" e, como tal, só eles estavam qualificados para reflectir nova luz e dispensar verdades do templo, que alegavam receber directamente da face do Senhor.
Assim, em 1931 a Sociedade Torre de Vigia tinha eliminado a palavra de Deus, substituindo-a pelos seus próprios livros como a nova semente; e substituindo-a com os livros, folhetos e revistas da Sociedade como os que continham o "alimento na época devida". Tinha substituído o único nome debaixo do céu pelo qual podemos ser salvos, Jesus, com o da sua própria Organização; e tinha na prática acabado com o mandato do Espírito Santo como frutificador da palavra de Deus nas mentes e corações dos cristãos, e tinham-se colocado a si próprios, como uma Teocracia, em seu lugar.
Finalmente, para racionalizar a sua Organização, a Sociedade promulgou oficialmente, em 1938, "A Teocracia", e fez todas as companhias das Testemunhas de Jeová, através de uma resolução, rejeitar pelo voto a sua autonomia em assuntos espirituais. Nisto as Testemunhas de Jeová concordaram em aceitar sem perguntas os ensinos da Sociedade, e curvar-se abjectamente à sua supervisão. Também concederam à Sociedade o direito exclusivo de entrar na congregação e de nomear servos de Brooklyn para serem os seus Opressores Teocráticos -- Servos de Zona que por sua vez seriam "os olhos e ouvidos" da Sociedade. Esta segunda onda de lavagem ao cérebro resultou assim na completa sujeição da individualidade à Mentalidade Teocrática, a cujo arranjo eles agora chamavam "Organização de Deus".
Entretanto, eles também tinham alargado a base da Organização por estabelecerem filiais e organizarem o trabalho em 140 países em todo o mundo. Também tinham construído a Escola de Gileade da Torre de Vigia, na qual treinavam centenas de missionários do Reino da Torre de Vigia, para serem enviados para o mundo como emissários da Sociedade.
Assim, a Sociedade Torre de Vigia tornou-se uma Organização mundial, mudando em apenas 30 anos de congregações de Estudantes da Bíblia independentes para uma "Teocracia" que já falava em termos de governo mundial, como a "Sociedade do Novo Mundo". Assim, a classe de Mordecai-Noemi, a classe de Rute-Ester e a classe dos Jonadabes ou Grande Multidão sem geração pelo espírito, são agora todas abrangidas sob o nome Testemunhas de Jeová. Têm sobre si a classe do Servo Fiel e Sábio, ou Sociedade Torre de Vigia. Portanto, as Testemunhas de Jeová hoje curvam-se e adoram abjectamente os deuses de Brooklyn, que erigiram com as suas próprias mãos numa alta Teocracia.
Ontem indivíduos em posição subalterna; hoje uma TEOCRACIA de classe; amanhã UMA SOCIEDADE DO NOVO MUNDO!

6. O Juiz Visita a Alemanha

Primeiros Dias em Magdeburgo

O Betel da Sociedade Torre de Vigia, ou a sua filial alemã, estava situado em Magdeburgo, Alemanha. Tinha acabado de ser mudado para lá, vindo de Barmen, no oeste, para facilitar uma organização melhor e mais eficiente. Claro que nesta ocasião estava tudo numa grande confusão no escritório de Magdeburgo.
Foram-me atribuídos dormitórios no sótão do Palácio de Cristal, que era o nome que este bem conhecido edifício tinha antes de ser comprado com dólares americanos da Torre de Vigia. Ainda não havia escadas, e nós tínhamos de subir para os nossos dormitórios usando um escadote. Alguns dos irmãos disseram na brincadeira que através deste escadote estávamos a descer e a subir do Inferno da Torre de Vigia, em contraste com a escada de Jacó. Os que disseram isso pouco tempo depois abandonaram completamente o lugar, como pode bem imaginar!
Na cave deste Palácio de Cristal nós estávamos de facto a imprimir, no início de 1925, um milhão de cópias do livro A Harpa de Deus em alemão, trabalhando sem interrupções, sete dias por semana. Isto era uma guerra -- uma campanha -- e requeria um esforço de guerra a todo o vapor.
O meu primeiro trabalho em Betel foi sentar-me num banco em frente de uma plataforma giratória em forma de disco que continha em compartimentos separados as várias secções a partir das quais o grande livro Harpa era produzido. O meu trabalho era pegar nas várias secções em sequência e colocá-las umas em cima das outras até ter em mãos um livro completo. Depois o livro ia para a encadernação, onde era cosido, colado, recebia as capas e era encadernado. Naquela altura fazíamos tudo de forma bastante rudimentar, mas produzíamos um número enorme de livros excelentes.

Em vez dos Príncipes, o Juiz

Na primavera de 1925, quando o mundo devia supostamente chegar ao fim, segundo as expectativas suscitadas pelas predições da Torre de Vigia, e estava agendado o aparecimento dos príncipes para nós, apareceu em lugar deles o Juiz Rutherford. Ele veio com o bolso cheio de dólares americanos, que a Sociedade tinha ajuntado na forma de contribuições para livros, e em breve comprou-nos uma nova parcela de terra, edifícios e máquinas. Assim que ele se foi embora, começou um programa de expansão com a duração de um ano.
Ocorreu um incidente engraçado durante a visita do Juiz. O Director da nossa filial alemã, tal como muitos antes dele, tinha deixado crescer uma grande barba, segundo o modelo de Charles T. Russell. O Juiz não queria que restasse absolutamente nada que o pudesse lembrar de Russell -- nem sequer o uso de uma barba. Portanto, sentado à mesa para jantar numa noite, não muito longe de mim, o Director pediu ao Juiz mais uma das grandes impressoras rotativas. O Juiz não disse nada durante algum tempo, apenas continuou a comer. Depois, subitamente, levantou os olhos, os seus olhos apontaram severamente na direcção da grande barba do Director e disse: "Eu compro-lhe a impressora se você tirar essa coisa", apontando para a barba. Aquilo certamente chocou a sensibilidade do Director, mas ele acatou de forma submissa o aviso e pouco tempo depois apareceu embaraçado sem a barba.

O Congresso de Magdeburgo

A visita do Juiz Rutherford foi sincronizada com um grande congresso em Magdeburgo, que durou 3 dias. O número registado de congressistas foi cerca de 12.000. Na realidade, apareceram 15.000 pessoas! Como não havia instalações para cuidar de uma multidão tão grande na cidade provincial de Magdeburgo, tivemos de improvisar. Alugámos grandes tendas de circo, e montámo-las num campo fora de Magdeburgo. Neste campo instalámos canalizações temporárias. Organizámos uma cafetaria, onde servíamos refeições quentes por um preço nominal. Esta foi a primeira cafetaria alguma vez organizada em círculos da Torre de Vigia, e teve tanto sucesso a fazer dinheiro que a Sociedade desde então adoptou isso como uma característica regular para os seus congressos e assembleias de circuito em todo o mundo. O abrigo para esta vasta multidão foi obtido requisitando quartos de senhorios que tinham sido previamente contactados numa prospecção cuidadosa. Isto, diga-se de passagem, também foi uma estreia, e é agora usado por todo o lado em conjunção com Congressos da Torre de Vigia e assembleias de circuito.
Eu era responsável pelos arranjos de transporte pré-Congresso. Foi-me dito pelo nosso Director alemão, agora sem barba, que tentasse fazer tanto dinheiro quanto possível para custear as despesas, de modo que pudéssemos mostrar ao Juiz um bom relatório financeiro. Organizámos 14 comboios especiais de todas as partes da Alemanha, e arranjámos um pequeno receptáculo de etiqueta de celulóide, com espaço para inserir um cartão branco com o nome da congregação escrito nele. Estes custaram-nos cerca de 3 pfennigscada e vendi-os por 50 pfennigs. Fizemos uma boa soma de dinheiro com esta transacção para aumentar os cofres da Sociedade!
Este congresso foi o palco de uma execução de mestre de uma mudança.
Na véspera do Congresso, enquanto jantávamos, estando o Juiz a presidir sobre a família de Betel reunida, cerca de 150 pessoas, assistimos a um discurso do Juiz. De uma maneira eloquente, ele descreveu como tinha estado na prisão de Atlanta, caminhando de um lado para o outro na sua cela. "Então", disse ele, "agarrei nas barras de ferro da minha cela, levantei os olhos para o Céu e prometi ao Senhor: 'Se me tirardes daqui, nunca pararei de expor a cristandade, e farei que este Evangelho do Reino seja pregado.'"
Tendo como pano de fundo este voto, ele contou-nos sobre a nova paisagem que tínhamos pela frente. Assumindo o papel de vidente no cimo da alta Torre de Vigia da Sociedade, fez que olhava para longe e começou a contar-nos que não devíamos antecipar de forma egoísta a ida para o céu agora em 1925, quando ainda havia tanto trabalho para ser feito na terra. Ele estava a desapontar-nos! As nossas emoções reprimidas e a nossa expectativa do fim do mundo estavam sendo esvaziadas. Mas, ao fazer isso, ele levou-nos até ao cimo da Torre de Vigia com ele, tão alto como a montanha da tentação da qual se podiam ver todos os reinos do mundo, e mostrou-nos uma grande organização mundial! Ele descreveu vastos biliões saindo de todos os reinos do mundo, pessoa após pessoa e classe após classe, lentamente aprendendo o Reino. Ele via montanhas de pilhas de livros para serem publicados e impressos.
A Sociedade Torre de Vigia tinha-se tornado tão paternal na sua atitude em relação aos Estudantes da Bíblia, que como clímax o Juiz usou de forma condescendente um dos milagres de Jesus como símbolo de benevolência em massa. Ele, magnanimamente, alimentou cada um na multidão de 15.000 na última sessão com um cachorro quente torcido e um pouco de salada de batata! A impressão de que ele era um grande benfeitor enfatizada por este último acto do Congresso ficou tão bem gravada que durante anos depois disso nas minhas viagens por toda Alemanha, de todas as muitas coisas que aconteceram naquele Congresso momentoso -- perda de individualidade, perda de autonomia congregacional, perda de liberdade, obrigatoriedade de relatórios de tempo, etc. -- a maior parte dos que tinham estado na assistência lembrava-se do cachorro quente e da salada de batata! Juiz esperto!!

O Plano do Juiz

O que o Juiz delineou no Congresso de Magdeburgo mostrou claramente que ele estava a operar seguindo as linhas de um plano director bem concebido. O plano tinha sido tirado das experiências de Israel desde o dia em que foram libertos do Egipto (e ele sublinhou isso com o nome que deu ao livro então acabado de publicar, nomeadamente, Libertação, 1926) passando pela sua peregrinação pelo deserto e entrada na terra da promessa e acabando no estabelecimento da Monarquia, e alcançando o seu clímax soberbo na construção do Templo de Salomão. Não foi senão em Julho de 1938 quando, ao discutir o advento da Teocracia de 1938, o Juiz usou novamente o programa de expansão e construção dirigido por Salomão como a sua base bíblica, que o padrão se completou na minha mente. Fui então catapultado de volta para esta memorável reunião de jantar na véspera do Congresso de Magdeburgo em 1925. Também nessa altura a referência ao programa de construção de Salomão formou os seus comentários concludentes. Assim, ao longo de todos estes anos, de 1919 a 1938, a Sociedade Torre de Vigia tinha usado as experiências da formação da nação de Israel como um padrão para a formação da Nova Nação, improvisando livremente em todos os lugares e ocasiões em que isso servisse o seu propósito, decidida a melhorar muito em relação a Israel.
Ao seguirem este padrão, eles até incluíram a perda de individualidade no interior de Israel quando escolheram a forma de governo monárquica. Também não foi esquecido o efeito final de tal programa sobre a própria Monarquia, quando se partiu em dois depois da morte de Salomão. Pois posteriormente eles usaram isto para justificar um terceiro círculo, mais exaltado, para a Sociedade Torre de Vigia, onde esta já não seria controlada por um homem, como tinha sido primeiro por Russell e depois por Rutherford, mas sim por um consórcio perpétuo no topo, ou por liderança colectiva. O terceiro círculo foi inaugurado em 1938. Eles não iriam repetir o erro de Salomão!
A maior parte do discurso do Juiz teve pouco significado para a família de Betel naquela noite, porque o tradutor não era muito competente. Mas eu, tendo nascido na América, percebi e absorvi cada palavra.

Tive Momentos de Apreensão

O que ouvi e vi em breve provocou-me muito exame de coração, e muito tumulto mental. Com muita apreensão de coração, eu muitas vezes ficava acordado à noite pensando no que tinha acontecido aos meus ideais como uma "nova criação" cristã. Preocupava-me com toda a pressão e alvoroço, e com as mudanças constantes que ocorriam e que estavam a cravar correntes cada vez mais fortes à volta da minha pessoa. Eu estava a ficar com uma mentalidade organizacional num nível alarmante. E depois havia aquelas coisas que não se encaixavam. Por exemplo, na Véspera de Ano Novo, em 1925, nós celebrámos com oração o advento de 1925 em Betel, esperando o aparecimento dos príncipes e do Reino nesse ano. Mas ao mesmo tempo nós estávamos a expandir as possessões materiais da Organização!
Na primavera de 1925 a Sociedade enviou uma convocatória por toda a Alemanha pedindo carpinteiros, trabalhadores de construção civil, canalizadores, para construir uma nova fábrica e novos edifícios reluzentes para Betel. Isto afectou uma reorientação na minha mente. Imbuído de sucesso e avanço, eu agora tornara-me totalmente e zelosamente mentalizado para a Organização. Nesse tempo eu tinha começado a ser bem sucedido na montagem da edição da Das Goldene Zeitalter (A Idade de Ouro); e como não há nada como o sucesso, eu por fim fiquei completamente absorvido nesta tarefa, esquecendo-me completamente de mim próprio e da minha posição como cristão. A oração e o estudo, agora só efectuados entre as multidões, tornaram-se estereotipados, e toda a individualidade desapareceu rapidamente do meu pensamento.
Conforme disse, uma vez por outra, à noite, quando estava só na minha cama, sem conseguir dormir porque a minha mente estava perturbada, surgiam apreensões no meu coração. Era nessas alturas que me lembrava daqueles dias da minha "primavera cristã", quando fora tão importante para mim assegurar-me da aprovação do Senhor sobre todos os actos do dia antes de adormecer. Agora eu só parecia preocupado com o cumprimento de quotas de produção e outras tarefas da Organização. Será que ao tornar-me parte de uma organização mundial eu tinha 'ganho o mundo e perdido a minha alma' (Mateus 16:26)? Se tinha, certamente não estava a beneficiar disso espiritualmente, financeiramente, ou de outro modo. Muito mais tarde, em 15 de Fevereiro de 1951, quando, depois de ter empilhado um registo de 22 anos de serviço a tempo inteiro com a Sociedade, eu já não estava disposto a produzir ou conformar-me, e fui retirado da lista e todo o meu registo com a Sociedade foi apagado, aprendi que de nada me adiantara ganhar posição como Publicador do Reino na Organização mundial da Torre de Vigia e perder a minha alma ou individualidade. Portanto, naquela época as minhas apreensões tinham sido muito apropriadas.

7. Peneiramento

Conformem-se, Senão...

Às vezes eu voltava a Berlim para visitar os meus amigos e os meus pais. Ao voltar verificava que, tal como nos outros lados, a política da Torre de Vigia estava a causar estragos na Congregação de Berlim. Muitos anciãos respeitados foram obrigados a renunciar sob uma nuvem de infidelidade, enquanto outros eram empurrados para segundo plano. Eu podia ver de todas as vezes que voltava que um grupo novo e mais jovem estava a ganhar ascendência com a ajuda da Sociedade, ao passo que os antigos estavam a ser postos de lado sempre que se recusavam a aderir aos relatórios de tempo e de livros, usando os formulários da Sociedade.
Ao mesmo tempo estava a ser efectuada uma mudança organizacional. Estavam a ser designados Directores de Serviço pela Sociedade. Durante algum tempo eles eram apenas os ajudantes do ancião presidente da congregação. Mas em breve o Director de Serviço ganhou mais influência à medida que a Sociedade endereçava todo o correio e assuntos da congregação a ele em vez de ao ancião presidente. Isto era feito sob a premissa de que o Director de Serviço era o servo da Sociedade, enquanto que o ancião presidente era o servo da congregação. Deste modo o Director de Serviço tornou-se estabelecido e reconhecido como o representante oficial da Sociedade Torre de Vigia. Em 1927 a maioria dos anciãos tinham sido empurrados para um canto ou completamente empurrados para fora da congregação, e os Directores de Serviço tinham tomado o controlo completamente.
Aqueles como eu, que eram jovens e agressivos e com uma lealdade mecânica, eram geralmente designados para a posição de Director de Serviço, e ao realizarmos as nossas tarefas muitas vezes fazíamo-las implacavelmente, sem consideração com os cabelos brancos ou serviço venerável do passado. Nós éramos treinados para liderar este trabalho sujo, avançando directamente e empurrando ou obrigando os nossos anciãos e melhores a sair, sem olhar a ética cristã ou amor fraternal.
Desta maneira, e para minha vergonha eterna, fui usado numa cidade do meio da Alemanha onde havia uma congregação de 175 Estudantes da Bíblia que não aceitavam um Director de Serviço, não relatavam tempo, nem cumpriam as instruções da Sociedade Torre de Vigia. Fui enviado de Magdeburgo para lá, um mero jovem de 21 anos de idade, com o apoio total da Sociedade Torre de Vigia para fazer essa congregação entrar na linha, e com instruções específicas para dividi-los caso eles se recusassem a obedecer.
Confrontando-me estavam homens cujo cabelo tinha embranquecido no serviço do Senhor, excelentes anciãos cristãos; e eu, um mero jovem, passei por cima das objecções deles peremptoriamente ao perguntar à congregação depois de um discurso de uma hora: "Quem está do lado da Sociedade Torre de Vigia?" Ao não receber qualquer resposta, passei a rotular os membros dessa congregação como "Escravos Maus", e pedi que todos os que estivessem do lado da Sociedade Torre de Vigia se levantassem e me seguissem para fora do salão. 8 dos 175 reunidos seguiram-me para fora e dirigimo-nos para casa de um dos irmãos e organizámos ali uma nova congregação. Claro que eu tornei-me o Director de Serviço.
Para me apoiar nesta acção arbitrária, a Sociedade deu-me carta branca (plenos poderes), permitindo-me usar 3 camiões cheios de publicadores trazidos de Magdeburgo todos os domingos, embora ficasse a uns 100 quilómetros de distância. Passado pouco tempo, com o apoio desta pressão, a nova congregação era tão grande como a antiga. Mas que diferença no pessoal, e no espírito do pessoal! Já não havia aqui homens e mulheres cristãos gentis, mas antes vendedores de livros e publicadores enérgicos e com um fim em vista, decididos a alcançar alvos!
De forma similar, esta purga foi levada a cabo implacavelmente por todo o país e por fim emergiu um novo conceito de congregação. O Director de Serviço, que representava a Sociedade, alcançou gradualmente o primeiro lugar na congregação à medida que as instruções da Sociedade se multiplicavam. Finalmente a Sociedade, de um só golpe, através de um artigo da Sentinela, eliminou a posição de ancião nas congregações. Isso foi feito, disseram eles, porque a eleição de anciãos era antibíblica. Na realidade, foi feito para acabar com o controlo das congregações a partir do nível local, e para introduzir um arranjo teocrático de cima para baixo, a partir da torre de controlo em Brooklyn.

"Peneiramento" em Betel

Tudo isto tinha requerido em primeiro lugar um escritório de Betel reorganizado em harmonia total com a nova política de Brooklyn. Este passo foi realizado em Betel entre 1924 e 1926, tempo a que chega agora a minha discussão. Durante o tempo de reajustamento, todos os recalcitrantes foram cuidadosamente arrancados como se fossem ervas daninhas. Isto exigia uma substituição terrível de pessoal.
Todos concordáramos que a Sociedade Torre de Vigia não pagaria nada pelos serviços prestados, porque achávamos que estávamos a servir o Senhor; sem encargos e solteiros, não precisávamos de nada além de comida, abrigo e algumas roupas. No entanto, nestas novas regras a Sociedade estava a exigir o que na realidade era controlo do pensamento e do comportamento, à maneira de uma instituição penal. Muitos achavam que isto era desnecessário. Estes naturalmente recusaram-se a assinar as regras da casa e este novo código. Isto provocou exactamente o que a Sociedade queria. O objectivo por detrás desta acção era aguilhoar e expulsar todos os que talvez não estivessem completamente dedicados à nova política da Sociedade Torre de Vigia.
A Sociedade Torre de Vigia forjou apoio bíblico para tal "peneiramento", como eles lhe chamavam. Utilizaram a narrativa bíblica da libertação de Israel sob a liderança de Gideão do jugo dos midianitas (registado em Juízes 7). Assim como no evento bíblico o número foi por fim peneirado até uns meros 300 que beberam água levantados, assim também, argumentaram eles nas colunas da Sentinela, a Sociedade por fim estaria rodeada por um pequeno grupo zeloso a quem no futuro seria dada a vitória.
Este peneiramento em Betel estava completo por volta de 1926. Agora a Sociedade achava que tinha o ouro puro do qual esperava no futuro construir a cabeça de ouro da Teocracia, ilustrada na imagem de Daniel 2:31-34. E agora que isto também tinha sido realizado no interior do perímetro de Betel, eles acharam que podiam alargar o processo e levar por diante a ideia de um raio de 150 quilómetros. Neste raio fomos instruídos a estabelecer, primeiro disfarçadamente e depois mais pronunciadamente, a nova ordem de coisas, baseada em venda de livros, relatórios de tempo, comparência a reuniões comerciais para treinamento, e finalmente estudo da Sentinela para doutrinação contínua. Em 1927 estas congregações tornaram-se o modelo para toda a Alemanha.

Conversa Dupla da Sociedade

A Sociedade nesta altura martelava continuamente nas colunas da Sentinela sobre a deserção na "classe de Mordecai-Noemi", querendo com isto significar os mais antigos. Isto na realidade era conversa dupla teocrática, e um meio de lançar os mais novos contra os mais antigos. Eles continuavam a dizer, mais uma vez deturpando a Bíblia, que uma nova classe, a classe de Rute-Ester, estava a começar a aparecer. As implicações eram completamente danosas para a posição dos mais antigos em qualquer congregação, que eram assim publicamente rotulados de inconformados, queixosos e infiéis.
O facto de a classe de Rute-Ester estar a substituir em todos os lugares a classe de Mordecai-Noemi era uma aprovação definitiva e tácita pela Sociedade Torre de Vigia destes elementos novos e mais jovens em cada congregação; e, claro, não deixou de ter efeitos imediatos. À medida que aumentavam as queixas dos mais antigos, a Sociedade sentiu-se chamada a vir em socorro da classe favorecida de Rute-Ester, mais jovem. Muito depressa, e com uma astúcia maquiavélica, eles conseguiram que os queixosos fossem rotulados de causadores de problemas, e acusaram os próprios anciãos de fomentarem este mal estar. Depois fizeram com que fossem arbitrariamente postos de lado eempurrados para um canto sob uma nuvem de infidelidade. A guerra constante assim imposta sobre eles era demais para estes cristãos delicados que ainda viviam num relacionamento pessoal com Cristo Jesus. Eles rejeitaram a hegemonia dominadora da classe do Servo de Brooklyn e de Magdeburgo. O resultado de tudo isto foi que eles simplesmente desapareceram dos lugares que outrora tinham adornado com vivência cristã.

Fantoches de Brooklyn

Nós em Magdeburgo éramos na realidade fantoches de Brooklyn. Éramos a organização experimental que pelas nossas acções estabelecíamos o padrão para o futuro assalto às congregações nos E.U.A. Todos os detalhes sobre como subverter mais eficazmente as congregações foi testado e tentado por nós e relatado a Brooklyn e foi arquivado ali para uso futuro nos E.U.A.
As congregações maiores foram as mais problemáticas, porque nestas os anciãos eram geralmente bem treinados e eram cristãos fortes. Mas a onda estava contra eles! À media que eram distribuídos cada vez mais livros contendo o novo evangelho da Torre de Vigia, e à medida que entravam muitos novos aderentes, começámos a experimentar a sujeição através da divisão. Fizemos isto dividindo arbitrariamente cada congregação em 6 a 12 unidades, todas elas semi-autónomas, para torná-las mais aceitáveis para os que não tinham cargos. Encabeçámos cada unidade com um Director de Serviço especialmente designado pela Sociedade. Ao mesmo tempo, foi mantida a aparência da unidade da antiga congregação através de uma assembleia mensal de 2 dias de toda a congregação em algum sítio especial. Era este o método usado para controlar mais facilmente as congregações. Funcionou tão bem que a Sociedade em Brooklyn, quando achou que o momento era propício (por volta de 1934-1935), começou a usar o mesmo método nas maiores cidades dos E.U.A.
A inconsistência da Sociedade Torre de Vigia no seu uso arbitrário das Escrituras para servir os seus objectivos da organização revelou-se mais uma vez de forma flagrante na sua interpretação de Mateus 24:45-52. Eles insistiam que o "servo fiel e sábio" desta passagem era uma classe, para anular a crença anteriormente defendida de que isso se aplicava a Charles T. Russell; mas insistiam com igual veemência que o "servo mau" da segunda parte desse mesmo texto referia-se a indivíduos, não a uma classe. Resumindo, ao passo que a Sociedade era colectivamente a Classe do Servo Fiel e Sábio, os seus opositores como indivíduos eram servos maus e eram assim rotulados. Isto estabelecia uma causa justificável para "desassociação". Este critério duplo de interpretação é evidente em todos os livros, folhetos e revistas da Sociedade Torre de Vigia.

8. A Organização de Deus

Removida uma Discrepância

Com o trabalho de 1926 em pleno funcionamento, tornou-se cada vez mais claro que havia uma discrepância flagrante no nosso ataque furioso contínuo contra a cristandade devido ao seu uso do princípio da organização, e a nossa própria construção de uma organização altamente eficiente e o nosso uso muito evidente de métodos organizacionais. Com o aproximar do Congresso de Londres em 1926, fomos informados a partir de Brooklyn que alguma coisa grande surgiria ali e resolveria esta discrepância evidente. Assim, mais uma vez, nós em Betel aguardámos com grande expectativa o anúncio de uma nova verdade a partir de Brooklyn.
A argumentação justificativa do Juiz veio com o expediente e o método de reviravolta típico da Torre de Vigia. E que rica argumentação -- e um pouco difícil de acompanhar! Dizia mais ou menos isto. Deus tem uma organização e sempre teve uma desde o princípio, desde o tempo em que começou a criar. Mas Satanás estragou a festa a Deus ao usar a organização para si mesmo. Satanás como "deus imitador" subverteu a organização para seu uso. Mas havia uma organização de Deus que era primeva, e que, elucidou aSentinela, era "a mulher de Deus". Com esta afirmação bizarra de que Deus tem uma organização e que esta organização é uma Mulher, a Sociedade não estava só a justificar a sua Organização. Estava igualmente a lançar uma base esotérica para obras, rituais, contagem e relatórios de tempo, colocação de livros e estudos de livro. Eles afirmavam que os novos Publicadores emergentes nasciam da Mulher de Deus exactamente como os filhos nascem naturalmente a uma mulher. Segundo esta explicação, todas as igrejas e organizações do mundo são a organização de Satanás; e todos aqueles que saíram delas sob a direcção da Organização de Deus e entraram num relacionamento de Publicadores com a Sociedade Torre de Vigia, tornaram-se dessa forma descendência de Deus. A Organização de Deus, portanto, era dirigida a partir de Brooklyn, Nova Iorque; a organização de Satanás era dirigida a partir de Londres, Inglaterra!
Assim se lançou em 1926 a base para aquilo que seria construído com o passar do tempo, até que a Teocracia de 1938 emergisse como o único representante de Deus na terra. Todas as organizações fora da Sociedade Torre de Vigia eram a organização de Satanás. As Testemunhas de Jeová agora eram as favorecidas; todos os outros, independentemente de quem fossem, eram os desfavorecidos!
Essa posição foi a base para o comportamento subsequente das Testemunhas de Jeová em relação a outras organizações, e em relação às nações nas quais vivem. O testemunho delas já não consistia em esforços gentis para ensinar Cristo e baptizar crentes, degenerou em manifestações organizadas e ataques sobre inimigos; as visitas delas às casas das pessoas já não eram simples actos de pregação, eram antes um "espoliar os egípcios" (Êxodo 11:2) através da obtenção de tantas e tão volumosas contribuições quanto possível; as visitas delas a grupos de estudo tornaram-se uma infiltração nos lares das outras ovelhas para furtá-las à organização de Satanás. As leis que requeriam autorização para regular as vendas em comunidades eram consideradas uma "maquinação de maldade através da lei" contra a Organização de Deus. A detenção por violar essas leis não era de modo nenhum considerada como algo a evitar ou temer, pois isto era na realidade uma "perseguição por causa do Meu nome" -- usando a declaração do Senhor.
Todo o sentido dos valores foi pervertido por esta nova doutrina e casuística da Organização Teocrática. Saudar ou honrar os emblemas do Estado era "curvar-se perante a imagem de Satanás", e foi proibido. Era aceitável curvar-se perante a Sociedade Torre de Vigia de Brooklyn, porque esta se tinha agora tornado a Organização de Deus; mas tudo o que não fosse aprovado por ela devia ser de agora em diante contrariado.
Pegar em armas e ir para a guerra agora só era correcto se decretado pela Organização de Deus, tal como tinha sido para os israelitas quando combateram os filisteus. As Testemunhas de Jeová nunca se opuseram à guerra [até aquele tempo], nem são objectores de consciência no verdadeiro sentido da palavra. Elas acreditam que todos os iníquos serão mortos; e por "iníquos" elas entendem todos os que não são da Organização de Deus, a Organização Torre de Vigia. De facto, elas pregam que todos os que são de outras organizações, a menos que fujam para a cidade de refúgio, significando a Organização de Deus patrocinada pela Sociedade Torre de Vigia, serão destruídos. E em edições daSentinela afirmaram que no Armagedom, quando todos os iníquos forem mortos, os filhos pequenos de tais iníquos também serão mortos. Culminando tudo isto, elas conjuram a "chuva de fogo desde o céu", o prognóstico selvagem de uma vindoura destruição em massa no Armagedom de todos os homens fora da Organização Torre de Vigia.
Em resposta à pergunta sobre como tratar opositores às verdades promulgadas pela Sociedade Torre de Vigia, que tenham sido outrora membros da fé e se tenham retratado, representantes da Sociedade frequentemente dizem: "É impossível matá-los, pois as leis da terra não permitem isso. Mas se as leis de Deus estivessem em vigor [significando 'se nós enquanto Organização de Deus já estivéssemos na Sociedade do Novo Mundo'] então eles seriam mortos. A melhor coisa a fazer sob as circunstâncias é tratá-los como se estivessem mortos."
Nós não demorámos a pôr estes conceitos em prática. Mas antes de chegar aí, há alguns pontos importantes que devo explicar melhor, e que ocorreram depois do Congresso de Londres.

O Plano de Incentivo

O objectivo principal da Sociedade Torre de Vigia era aumentar muito a venda dos seus livros. Todos os anos aparecia um novo livro escrito pelo Juiz Rutherford. Era necessário atiçar estas campanhas de vendas intermitentes com toda a espécie de incentivos. Nós em Betel fomos solicitados a tomar a liderança, e como recebíamos muito pouco dinheiro pelo nosso trabalho, foi-nos dito que podíamos aumentar as nossas receitas fazendo um esforço especial para vender livros da Torre de Vigia. O Juiz ofereceu-nos em Betel um bónus de dois livros gratuitos por cada livro que vendêssemos. Eu sempre fui um bom vendedor, e embora só usasse os Domingos para estas incursões de vendas, pois tinha de trabalhar nos dias de semana em Betel, por vezes vendia 25 cópias do livro Deliverance (Libertação), ganhando assim 50 livros gratuitos. E quando éramos detidos afirmávamos que estávamos a pregar e não a fazer dinheiro com isso, quando neste caso sabíamos perfeitamente que estávamos a ganhar um lucro de 200%!
Eu ficava muito perturbado como cristão (e ainda gostava de sentir que era um cristão) ao me aperceber que a minha consciência estava sendo anestesiada por esta casuística organizacional. Ainda hoje aqueles em Betel e os pioneiros vendem os seus livros com uma margem de lucro. No entanto, quando são detidos por venderem sem licença eles afirmam que estão a pregar, tal como nós; e, conforme lhe mostrarei adiante, eles conseguiram que essa afirmação fosse aceite!
O sistema de incentivos sob a forma de partilha nos lucros pegou, e dentro de pouco tempo os relatórios de Betel eram apresentados no Service Director (Director de Serviço), uma folha mensal da Organização. Isto dava boa leitura e levou muitas congregações a imitar-nos. Quando este padrão ficou estabelecido e começaram a chegar de todas as partes do país relatórios de vendas enormes, esses relatórios tornaram-se estandardizados, com os totais a aparecer no Service Director mensal. A seguir veio o estabelecimento de quotas nacionais, o aparecimento de gráficos e toda a parafernália de uma organização de vendas bem oleada. As nossas vendas começaram a disparar! Nas quotas e nos relatórios a Sociedade tinha agora as alavancas com as quais podia exercer pressões.
Se havia congregações sem homens de confiança da Sociedade ou correios, nós tínhamos de visitá-los e forçar o assunto, ou como nós dizíamos, "Acender uma fogueira debaixo deles". "Coloquem livros aos milhões!" era o nosso slogan. Afinal de contas, o objectivo primário da campanha "Anunciai, Anunciai, Anunciai o Rei e o Reino", que começou em 1922, era vender livros!

Kadaver Gehorsam

Era muito importante nesse tempo que os edifícios que estavam agora em processo de construção fossem rapidamente acabados e postos em uso. As nossas congregações, os nossos escoadouros de vendas, estavam a gritar por livros -- mais do que podíamos fornecer.
A Sociedade tinha convidado voluntários de todo o país para ajudar na construção. Porém, depressa se descobriu que, por serem voluntários, trabalhavam pouco. Parecia aos dirigentes em Brooklyn que o trabalho estava a avançar muito devagar, e pressionaram o Director para aumentar a velocidade. Ele contratou três capatazes "do mundo", isto é, "do exterior", para supervisionar e apressar o trabalho. Estes homens tinham instruções para pressionar os irmãos e conseguir que trabalhassem mais arduamente. A pressão foi aumentada pelo Director no aspecto espiritual. Ele usou a consideração do texto maná diário, na discussão do qual a família de Betel se juntava ao pequeno almoço, como plataforma para dar reprimendas aos irmãos. O Director chegou ao ponto de pedir "kadaver gehorsam". Quando ele usou essas palavras eu soube instintivamente que ele tinha ido longe demais. Esse é um termo militar alemão que significa obediência como um cadáver. Isso estragou tudo. Mais de metade dos trabalhadores desistiram a curto prazo e muitos outros saíram pouco depois. De facto, tornou-se um problema arranjar novos trabalhadores para aceitarem a convocação de fora do seu próprio país.
Os líderes em Brooklyn registaram friamente esse resultado para referência futura. Afinal de contas, a nossa experiência na Alemanha tornar-se-ia o protótipo para a Teocracia que seria estabelecida mais tarde na América. Pouco preocupava estes líderes da Torre de Vigia colocar encarregados de fora sobre os seus irmãos, quase da mesma maneira que os egípcios tinham feito com os israelitas, cuja história posterior eles afinal estavam a usar como modelo para o estabelecimento da Nova Nação. Muito menos os preocupava que esse comportamento fosse contrário a princípios cristãos estabelecidos. Para eles o que importava era o facto que aprenderam de que os irmãos não aceitavam a escravatura sob pessoas de fora. Eles arquivaram com muito cuidado essa informação valiosa; e quando a Teocracia de 1938 foi estabelecida, e depois disso, quando eles começaram a usar Supervisores Teocráticos e capatazes para levar os Publicadores do Reino (ou antes, escravos do Reino) a uma melhor performance nas quotas, a maiores colocações de livros e assistência mais regular às reuniões, eles usaram irmãos! "Servos dos irmãos", é assim que lhes chamam agora. Parece que a maioria das Testemunhas de Jeová, tendo descido tão baixo em pensamento individual e tendo descido ao nadir de uma existência semelhante à de Zombis, aceitarão a escravatura se lhes for imposta de cima para baixo teocraticamente pelos seus próprios capatazes.
Escusado será dizer que eles tiveram de contratar pessoas de fora para completar aquele programa de construção em Magdeburg!

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