| 30 JULHO 2013
ARTIGOS - EDUCAÇÃO
ARTIGOS - EDUCAÇÃO
Vivemos em uma época em que a nova moda é desconstruir os velhos
contos e reescrevê-los, esvaziando-os totalmente dos ensinamentos
morais e espirituais que auxiliavam no desenvolvimento,
manutenção e fortalecimento das virtudes características
da cultura judaico-cristã.
Super Why
Iludem-se aqueles que imaginam que as cartilhas e livros governamentais
são os únicos materiais nocivos dos quais nossas crianças precisam ser
protegidas. Sim, neles há toda sorte de erros, de concepções ideológicas
travestidas de "fatos", estímulos às drogas, ao desenvolvimento prematuro
da sexualidade, entre outras coisas. No entanto, nossos adversários são
bem mais espertos do que isso e seus braços são bem mais longos também.
Não raras vezes vejo pais e mães comemorando o interesse dos filhos em
livrinhos infantis. Dizem, aliviados, que os filhos gostam de ler, que pegaram
gosto pela coisa, que serão estudiosos e por aí vai. O problema é que poucas
vezes os pais têm o mesmo entusiasmo para averiguar o tipo de conteúdo
presente nos livrinhos e a respectiva mensagem que eles transmitem
. Tal imprudência é mais ou menos o mesmo que deixar a criança entregue
à TV, alegando que, afinal de contas, trata-se de um inofensivo canal de TV
a cabo infantil.
Os engenheiros sociais sabem que juntamente com a influência dos pais
(cada vez menor, dado o esfacelamento das famílias e as altíssimas
cargas horárias de atividades que as crianças cumprem, hoje em dia, fora
do cuidado e da supervisão familiar), a influência exercida sobre o imaginário
infantil através das histórias, desenhos, fábulas e até músicas será decisiva
ara a construção do tipo de "cidadão" desejável. Não por acaso vivemos em
uma época em que a nova moda é desconstruir os velhos contos e reescrevê-los,
esvaziando-os totalmente dos ensinamentos morais e espirituais que auxiliavam
no desenvolvimento, manutenção e fortalecimento das virtudes características da
cultura judaico-cristã.
Como exemplos concretos daquilo a que me refiro, citarei apenas dois casos, dos
Como exemplos concretos daquilo a que me refiro, citarei apenas dois casos, dos
mais óbvios dentre muitos outros e mais sutis:
Super Why é um desenho exibido no Discovey Kids Brasil, um canal de TV a
cabo voltado para o público da primeira infância, desde bebês até crianças por
volta dos seis anos de idade. Sob o pretexto de ensinar novas palavras às
crianças, expandindo seu vocabulário, o Super Why reescreve os contos clássicos
, tais como "O lobo mau" e "João e o pé de feijão", alterando-lhes por completo o
sentido. No episódio, por exemplo, do lobo mau, que é a representação
alegórica do pedófilo, é transformado na raposa legal, de modo que todo
o desenrolar da trama original é adulterado, e, portanto, a moral da história,
que pretendia alertar as meninas para os perigos das conversas com homens
desconhecidos, é perdida.
The night dad went to jail
Lançado em 2011, nos EUA, o livrinho acima, cuja tradução do título
poderia ser "A noite em que papai foi para prisão", faz parte de uma série
chamada Life's Challenges, da Capstone. Como vocês podem imaginar,
crianças a lidar com problemas reais e cada vez mais comuns nas
famílias (se você não se chocou com o que acabei de escrever, por
favor, faça soar o alarme). A obra, bem como a série da qual faz part
e, não receberam, até onde pude averiguar, tradução para a língua
portuguesa, mas se não o receberam, certamente apontam para uma
nova tendência e para um novo nicho do mercado editorial infantil. Já
pensaram no quão úteis podem ser historinhas como "O dia em que
mamãe virou prostituta", "Quando meu irmão tornou-se um dependente
químico" e coisas semelhantes?
Em outras palavras, não basta apenas que as crianças adquiram o hábito
da leitura ou assistam a programações pretensamente selecionadas
de acordo com a idade em que estão. Não. É preciso que adquiram o
hábito da leitura lendo boas obras, preferencialmente mais
antigas e clássicas, as quais ainda transmitem a riqueza do
patrimônio imaginativo e cultural sobre o qual se assenta o Ocidente.
Investindo em obras desse tipo, que geralmente encontram-se
disponíveis em sebos a preços bem mais em conta do que os
últimos lançamentos editoriais, bem como investindo em
brinquedos e jogos que realmente estimulem a imaginação e
a participação das crianças, não haverá tanto tempo nem
tanto desejo de programas de TV. Além disso, é preciso
que tenhamos sempre claro que, assim como a qualidade
daquilo que comemos afetará nossa saúde física, assim também
a qualidade daquilo que lemos, assistimos e ouvimos repercutirá
sobre nossa saúde psíquica, moral e espiritual. Os
engenheiros socias sabem muito bem disso. Mas e nós, pais e mães brasileiros?
Camila Hochmüller Abadie é mãe, esposa e
mestre em filosofia. Edita o blog Encontrando Alegria.
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