quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Vivemos em uma época em que a nova moda é desconstruir os velhos 
contos e reescrevê-los, esvaziando-os totalmente dos ensinamentos
 morais e espirituais que auxiliavam no desenvolvimento,
 manutenção e fortalecimento das virtudes características
 da cultura judaico-cristã.
Super Why

Iludem-se aqueles que imaginam que as cartilhas e livros governamentais 
são os únicos materiais nocivos dos quais nossas crianças precisam ser 
protegidas. Sim, neles há toda sorte de erros, de concepções ideológicas
 travestidas de "fatos", estímulos às drogas, ao desenvolvimento prematuro
 da sexualidade, entre outras coisas. No entanto, nossos adversários são
 bem mais espertos do que isso e seus braços são bem mais longos também.
Não raras vezes vejo pais e mães comemorando o interesse dos filhos em
 livrinhos infantis. Dizem, aliviados, que os filhos gostam de ler, que pegaram
 gosto pela coisa, que serão estudiosos e por aí vai. O problema é que poucas
 vezes os pais têm o mesmo entusiasmo para averiguar o tipo de conteúdo
 presente nos livrinhos e a respectiva mensagem que eles transmitem
. Tal imprudência é mais ou menos o mesmo que deixar a criança entregue 
à TV, alegando que, afinal de contas, trata-se de um inofensivo canal de TV
 a cabo infantil.
Os engenheiros sociais sabem que juntamente com a influência dos pais
 (cada vez menor, dado o esfacelamento das famílias e as altíssimas
 cargas horárias de atividades que as crianças cumprem, hoje em dia, fora 
do cuidado e da supervisão familiar), a influência exercida sobre o imaginário 
infantil através das histórias, desenhos, fábulas e até músicas será decisiva
ara a construção do tipo de "cidadão" desejável. Não por acaso vivemos em 
uma época em que a nova moda é desconstruir os velhos contos e reescrevê-los,
 esvaziando-os totalmente dos ensinamentos morais e espirituais que auxiliavam
 no desenvolvimento, manutenção e fortalecimento das virtudes características da
 cultura judaico-cristã. 

Como exemplos concretos daquilo a que me refiro, citarei apenas dois casos, dos
 mais óbvios dentre muitos outros e mais sutis:
Super Why é um desenho exibido no Discovey Kids Brasil, um canal de TV a 
cabo voltado para o público da primeira infância, desde bebês até crianças por
 volta dos seis anos de idade. Sob o pretexto de ensinar novas palavras às 
crianças, expandindo seu vocabulário, o Super Why reescreve os contos clássicos
, tais como "O lobo mau" e "João e o pé de feijão", alterando-lhes por completo o 
sentido. No episódio, por exemplo, do lobo mau, que é a representação
 alegórica do pedófilo, é transformado na raposa legal, de modo que todo
 o desenrolar da trama original é adulterado, e, portanto, a moral da história,
 que pretendia alertar as meninas para os perigos das conversas com homens
 desconhecidos, é perdida. 
The night dad went to jail
Lançado em 2011, nos EUA, o livrinho acima, cuja tradução do título
 poderia ser "A noite em que papai foi para prisão", faz parte de uma série
 chamada Life's Challenges, da CapstoneComo vocês podem imaginar,
 a proposta do livro é bastante explícita em sua intenção de ajudar as
 crianças a lidar com problemas reais e cada vez mais comuns nas
 famílias (se você não se chocou com o que acabei de escrever, por 
favor, faça soar o alarme). A obra, bem como a série da qual faz part
e, não receberam, até onde pude averiguar, tradução para a língua
 portuguesa, mas se não o receberam, certamente apontam para uma
nova tendência e para um novo nicho do mercado editorial infantil. Já 
pensaram no quão úteis podem ser historinhas como "O dia em que
 mamãe virou prostituta", "Quando meu irmão tornou-se um dependente 
químico" e coisas semelhantes?
Em outras palavras, não basta apenas que as crianças adquiram o hábito
 da leitura ou assistam a programações pretensamente selecionadas
de acordo com a idade em que estão. Não. É preciso que adquiram o
 hábito da leitura lendo boas obras, preferencialmente mais
 antigas e clássicas, as quais ainda transmitem a riqueza do 
patrimônio imaginativo e cultural sobre o qual se assenta o Ocidente. 
Investindo em obras desse tipo, que geralmente encontram-se 
disponíveis em sebos a preços bem mais em conta do que os
 últimos lançamentos editoriais, bem como investindo em
 brinquedos e jogos que realmente estimulem a imaginação e
 a participação das crianças, não haverá tanto tempo nem
 tanto desejo de programas de TV. Além disso, é preciso
 que tenhamos sempre claro que, assim como a qualidade
 daquilo que comemos afetará nossa saúde física, assim também
a qualidade daquilo que lemos, assistimos e ouvimos repercutirá 
sobre nossa saúde psíquica, moral e espiritual. Os
 engenheiros socias sabem muito bem disso. Mas e nós, pais e mães brasileiros?

Camila Hochmüller Abadie é mãe, esposa e 
mestre em filosofia. Edita o blog Encontrando Alegria.

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