sexta-feira, 22 de julho de 2011

Testemunhas de Jeová Estiveram Associadas Com a ONU Durante 10 Anos

Testemunhas de Jeová Estiveram Associadas Com a ONU Durante 10 Anos

Andrew W. Lusk




As Testemunhas de Jeová, conhecidas pela sua pregação de porta em porta, recusa de transfusões de sangue e neutralidade política, estão envolvidas num escândalo que é comparável ao Papa apoiar secretamente o aborto.


As Testemunhas têm de se manter neutras em assuntos políticos, incluindo guerra, ou arriscam-se a ser desassociadas e evitadas pela congregação. A liderança das Testemunhas foi ao ponto de encarar as Nações Unidas como sendo a iníqua besta cor de escarlate mencionada na Bíblia (semelhante ao modo como os católicos encaram o anticristo). Porém, as Nações Unidas confirmaram que a liderança das Testemunhas, através da sua empresa Watchtower, esteve em associação ou parceria com a ONU durante 10 anos. Os líderes desistiram rapidamente da parceria com a ONU depois de um jornal inglês ter exposto a hipocrisia em outubro de 2001.


Ninguém sabe o que 6 milhões de Testemunhas, incluindo os milhares que foram brutalizados por ditadores devido à sua posição de neutralidade, pensam sobre o envolvimento político com a ONU, pois o escritório central nunca publicou uma declaração oficial para as Testemunhas em geral. Não obstante, a liderança está a enviar as Testemunhas de porta em porta para pregar contra a hipocrisia religiosa, conforme se pode ler na revista Sentinela de 15 de novembro de 2001.




Elas virão à sua porta e trarão nas mãos a revista Sentinela de 15 de novembro de 20011 que avisa sobre a "hipocrisia religiosa". Elas estão convictas sobre a sua mensagem e objetivo de recrutar você e os seus filhos. Mas será que elas contam toda a história? No que se está a tornar um grande escândalo, muitas Testemunhas de Jeová estão a ficar chocadas ao descobrirem que a sua organização-mãe, a Watchtower Bible and Tract Society of New York, tem-se estado a "associar"2 em privado com as Nações Unidas. Em círculos religiosos, isto é comparável ao Papa concordar apoiar em privado o aconselhamento familiar e o direito ao aborto.


Os 6 milhões de Testemunhas de Jeová3 em todo o mundo foram instruídos pela sua liderança, o Corpo Governante, que têm de se manter politicamente "neutros".4 As Testemunhas têm de "respeitar" o governo por pagarem os seus impostos, mas não podem mostrar qualquer "apoio" ao governo por se juntarem às instituições militares, por fazerem a saudação à bandeira, ou por jurarem lealdade a uma Carta ou Constituição. O mesmo se aplica às Nações Unidas, conforme diz a revista Sentinela de 1 de outubro de 1995.5 De fato, a organização das Testemunhas de Jeová ensina que as Nações Unidas são a iníqua "fera cor de escarlate" mencionada no livro bíblico de Revelação (Apocalipse). Esta perspectiva é comparável ao modo como um católico vê o anticristo. Todas as religiões do mundo, exceto a religião das Testemunhas de Jeová, são consideradas como apoiantes das iníquas Nações Unidas e constituem a "grande prostituta" que está montada sobre a fera. As Testemunhas de Jeová ensinam que no 'fim do sistema' a fera eliminará a "grande prostitua" (todas as religiões) e será preciso Jeová intervir para matar a fera e salvar as Testemunhas.


"Apoiar" deliberadamente uma Carta de um governo ou uma guerra custaria pessoalmente a uma Testemunha de Jeová a excomunhão,6 a perda de Deus, a morte no Armagedom que virá em breve e ser evitado pela família e amigos na congregação.6 É um passo sério para Testemunhas que só conhecem a sua congregação. As Testemunhas levam a "neutralidade"4 tão a sério que até foram mortas em campos de concentração7 por se recusarem a juntar-se aos nazis. Milhares foram mortas ou atacadas brutalmente por um ditador do Malawi8 na África Oriental durante as décadas de 1960 e 1970. Atualmente há Testemunhas em prisões por se recusarem a cumprir o serviço militar obrigatório9 em países como a Grécia e Singapura, e são importunadas na escola por se recusarem a participar na saudação à bandeira.


Mas ao mesmo tempo que ensinava ao seu rebanho que a ONU é a fera iníqua, a Watchtower, considerada uma Organização Não-Governamental (ONG), "aproximou-se voluntariamente"2, 10, 11 e solicitou ao Departamento de Informação Pública (DPI) o estatuto de "associada" em 1991. Segundo a brochura do DPI de 1994,10 a Diretoria do DPI de 1999-200011 de todas as ONGs associadas e a brochura corrente,2 as ONGs "associadas", como a Watchtower, recebem uma variedade de documentos da ONU, têm acesso a grandes quantidades de fontes de informação e podem assistir a reuniões especiais no escritório da sede da ONU em Nova Iorque.


Para se tornar ONG "associada", o Departamento da ONU exigiu que a Watchtower, tal como todas as ONGs associadas, concordasse voluntariamente com o seu critério.10, 11, 12 O critério atual12 e o critério dos anos anteriores10, 11 exige que as ONGs "associadas" "apoiem" e "respeitem" voluntariamente os ideais da Carta das Nações Unidas e dêem provas do seu apoio à ONU por distribuírem e promoverem documentos e atividades da ONU junto dos seus membros. De fato, as Resoluções do Comitê da ONU,13 adotadas em 1968 e atualizadas em 1996,14 requerem mesmo que as ONGs "associadas" se "conformem" (ou obedeçam) ao espírito, propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas.


Apoiar deliberadamente a Carta das Nações Unidas é considerado uma atividade não-neutral4, 6 que requer a expulsão imediata e corte de relações com a Testemunha, conforme delineado na Seção 5 (a)6 do manual dos anciãos intitulado Prestai Atenção a Vós Mesmos e a Todo o Rebanho,6 publicado em 1991 pela Sociedade Torre de Vigia. No entanto, parece que a Sociedade Torre de Vigia nunca informou oficialmente os seus membros sobre o que o DPI chama uma "parceria",15 nem sobre a razão por que estava a publicar matéria promocional da ONU na sua revista (exemplo: a edição de 22 de novembro de 1998 da Despertai!16).


Segundo uma carta com a data de 11 de outubro de 2001, e uma carta atualizada com a data de 4 de março de 2004, escritas por Paul Hoeffel,17 Diretor da Seção de ONGs do DPI da ONU, a Watchtower enquanto ONG solicitou "acreditação" ao DPI em 1991 e recebeu-a de um comitê do DPI em 1992. O DPI e outras ONGs da área também confirmaram que ONGs "associadas" como a Watchtower têm de providenciar ao DPI exemplos do seu trabalho promocional em favor da ONU num relatório anual, e têm de preencher um formulário de acreditação anual18 para manter o seu estatuto de "associadas".


Desde agosto de 2001, membros das Testemunhas de Jeová, ex-membros e outras pessoas interessadas investigaram este escândalo.19 As Diretorias do DPI de 199420 e de 1999-200011 de todas as ONGs associadas com as Nações Unidas mostram o nome e endereço da Watchtower, junto com os nomes de W. L. Barry, Ciro Aulicino e Robert Johnson. Barry era membro do Corpo Governante [morreu em 1999] e Vice-Presidente da Watchtower. O nome de Barry liga a aprovação da "parceria"15 com a ONU aos escalões mais altos da Watchtower em Brooklyn, na sede em Nova Iorque.


A carta de Hoeffel17 também indicou que o DPI recebeu muitos pedidos de informação sobre a Watchtower, e em outubro a Watchtower solicitou discretamente que a sua filiação com o DPI fosse terminada. Em 9 de outubro de 2001 o DPI "desassociou" oficialmente a Watchtower. A liderança da Watchtower ainda não informou os seus membros sobre a "desassociação" em qualquer das suas publicações e cria a impressão de que se aperceberam que foi cometido um disparate horrendo.


Em outubro de 2001, artigos de Stephen Bates no jornal The Guardian21, 22, 23 levantaram a tampa deste escândalo em Inglaterra. Numa carta com a data de 22 de outubro de 2001 para o Guardian, Paul Gillies,24 um funcionário de relações públicas das Testemunhas de Jeová, admitiu a "associação"24 mas tentou esvaziar os artigos sugerindo que o Corpo Governante não conhecia o critério da ONU para as ONGs. Uma carta com a data de 1 de novembro de 2001, da sede da Watchtower25 para as suas filiais, forneceu justificações similares. No entanto, a carta de Heoffel,17 a brochura da ONU de 1994,10 a Diretoria do DPI de 1999-2000,11 dois comunicados da ONU à imprensa em 1992,26, 27 um formulário de "acreditação anual"18 que tinha de ser preenchido e assinado por um representante da Watchtower, e as resoluções do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas de 196813 mostram claramente um relato diferente. Um relato "independente" que prova que a Watchtower tinha de "solicitar voluntariamente"2, 10 associação à ONU, apoiar os ideais da Carta das Nações Unidas2, 10 e provar o seu apoio à ONU2, 10 por distribuírem literatura promocional sobre a ONU. Devido à desinformação contida na carta de Gillies,24 o Guardian recusou-se a publicá-la.


Também parece que as respostas da Watchtower estão a ignorar o fato de ONGs "associadas" terem de disseminar propaganda da ONU para os seus membros e enviar regularmente relatórios para a ONU com exemplos das suas atividades nesse sentido em relatórios anuais. De fato, nos dois primeiros anos em que foi uma ONG "associada", a Watchtower teve de provar o seu "apoio" ou lealdade à ONU10 devotando uma parte das suas publicações à agenda da fera e edificando apoio à fera. Quem diria que na "organização escolhida de Deus", segundo a liderança, o "alimento no tempo apropriado" era a "fera cor de escarlate"?


Ao mesmo tempo que a Watchtower tem estado a ensinar a "neutralidade",4 a ensinar que a ONU é uma fera iníqua, que outras religiões apoiam erradamente a fera, que Testemunhas que saúdam deliberadamente a bandeira têm de ser evitadas e que a hipocrisia religiosa é errada, a mesma liderança também estava a "apoiar"2, 10 e a provar a sua lealdade10 a essa mesma "fera iníqua" ao longo dos últimos 10 anos. Parece que a Watchtower e os seus líderes, considerados pelas Testemunhas como a organização escolhida de Deus, estão a fazer exatamente aquilo de que acusam as igrejas estabelecidas e outros na sua revista Sentinela de 15 de novembro de 2001.1


O custo humano para os membros das Testemunhas de Jeová do apoio não-neutral que a liderança deu à ONU é demonstrado no Capítulo 7 (Artigos 39 a 51)29 da Carta das Nações Unidas.28 O Capítulo 7,29 que a Watchtower concordou voluntariamente em "apoiar",2, 10 fornece às Nações Unidas um instrumento para usar em ações militares e permite que um país membro use forças armadas para se defender em caso de ataque. Seria indispensável ouvir as opiniões das Testemunhas, que seguem os ensinos dos seus líderes e estão encarceradas em Singapura por recusarem serviço militar ou aquelas que morreram em África e na Alemanha, sobre o que a sua organização-mãe fez ao apoiar politicamente a ONU ao longo dos últimos 10 anos.


Também temos de perguntar onde estava o comitê das Nações Unidas em 1991 e 1992 quando deu acreditação à Watchtower como uma "associada" do DPI. Há muitos artigos nas publicações da Watchtower explicando a "fera cor de escarlate",5 o ostracismo de ex-membros, a discriminação em função da orientação sexual e a não permissão de transfusões de sangue para crianças em casos de vida ou de morte.30 Esses exemplos podem ser considerados problemas de direitos humanos em alguns países e vão contra a Carta das Nações Unidas.28 Além disso, há casos envolvendo pedofilia31 que têm sido relatados em jornais32 dos Estados Unidos e no programa Dateline33 da cadeia de televisão NBC. Apesar disso, a Watchtower, com a ajuda de quatro referências [cartas de recomendação], obteve a "associação" em 1992.


Algumas pessoas no interior da organização sugeriram que a Watchtower, enquanto ONG, usou este estatuto de "associada" da ONU em países (como a Rússia e a França) que tratam a Watchtower como uma seita perigosa. Um estatuto de "associada" do DPI e a aprovação por um comitê das Nações Unidas poderiam ser usados pela Watchtower para dissipar o receio que existe nesses países acerca as seitas e para ajudar a obter um estatuto de "organização religiosa reconhecida".


A carta24 do representante inglês da Watchtower, Gillies, bem como a carta da Watchtower com a data de 1 de novembro de 2001 dizem que a "associação"24 com as Nações Unidas foi usada para obter um cartão de identificação para a biblioteca das Nações Unidas.34 Segundo a Watchtower, a organização precisava de informação que só podia ser obtida na biblioteca das Nações Unidas. No entanto, a informação sobre o acesso providenciada pelo sistema da biblioteca das Nações Unidas35 mostra que uma pessoa pode obter toda a informação da biblioteca sem precisar de ser uma ONG "associada".


Parece que os representantes da Torre de Vigia também se esqueceram de ler a sua doutrina que prescreveram sobre associação e apoio às Nações Unidas. Por exemplo, um artigo intitulado "O refúgio deles -- uma mentira!" na revista Sentinela de 1 de Junho de 1991 (páginas 15-20),36 um artigo intitulado "Pode uma imagem trazer paz e segurança?" na Sentinela de 1 de Maio de 1977 (página 261) e um artigo intitulado "A adoração da "fera" -- por que é recusada pelos verdadeiros cristãos" na Sentinela de 15 de Abril de 1977 (páginas 248-252),37 mostram que envolver-se, apoiar ou aquiescer com os princípios da fera cor de escarlate era considerado algo próprio da religião falsa.


Curiosamente, o artigo publicado em junho de 1991 na Sentinela saiu quase ao mesmo tempo que a Torre de Vigia teria estado a elaborar o Formulário para acreditação como ONG (aprovado posteriormente em 1992).


Uma análise detalhada adicional do artigo da Sentinela de 1991 mostra que o parágrafo 10 pergunta como é que a religião está envolvida com as Nações Unidas. A resposta encontra-se no parágrafo 11, onde se diz que nada menos de vinte e quatro organizações católicas estão representadas na ONU. A resposta parece fraca quando comparada com os artigos da Sentinela de 1976.


O parágrafo 11 do artigo da Sentinela de 1991 citou o capítulo 6, parágrafo 1, página 45 do livro New Genesis, Shaping a Global Spirituality [Novo Génesis, Dando Forma a uma Espiritualidade Global] (ISBN 1-680465-04-3), Garden City, New York, Doubleday, Image Books, 1982, 1984 por Robert Muller.38 O capítulo de Robert Muller tem o título "Oração e Meditação nas Nações Unidas".


Lendo a citação de Muller, descobrimos que o artigo da Sentinela de 1991 deixou de fora a segunda frase do parágrafo de Muller. A segunda frase diz: "Todas as grandes religiões mundiais estão acreditadas nas Nações Unidas como organizações não-governamentais."39 Esta frase que foi deixada de fora e que descreve organizações não-governamentais de fato tornaria a citação no parágrafo 11, e consequentemente a resposta à pergunta feita no parágrafo 10, significativamente mais forte. A exclusão da frase fornece prova de que a Torre de Vigia estava procurando obter pela calada exatamente o mesmo relacionamento que a religião falsa tinha com as Nações Unidas.



Nenhum comentário:

Postar um comentário